A 1,3,7 trimetilxantina é uma das substâncias de efeito estimulador mais consumida pelo mundo. Trata-se de um alcaloide que age diretamente no sistema nervoso central, encontrado principalmente no café, chá e chocolate. “Este composto possui a capacidade de ultrapassar a barreira hematoencefálica e ativar neuromoduladores do córtex responsáveis pela liberação de epinefrina”, explica Ciro José Brito, doutor em educação física e especialista em fisiologia do exercício. Ou seja, é essa a sustância responsável pela liberação da adrenalina, aquele hormônio que faz com que nosso corpo se sinta totalmente carregado de energia. Sabe aquele cafezinho que tomamos para dar aquela energia logo após o almoço? É exatamente por causa da 1,3,7 trimetilxantina que ficamos mais alertas com ele.
A 1,3,7 trimetilxantina nada mais é do que a cafeína que tanto conhecemos, porém existe outros dois tipos de metilxantina: a 1,3 dimetilxantina, também conhecida como teofilina; e a 3,7 dimetilxantina, chamada de teobromina. Esses dois últimos tipos de metilxantina possuem um efeito menos acentuado do que a cafeína. A teofilina é muito utilizada em medicamentos de asma e bronquite e a teobromina é encontrada no chocolate, chá e noz moscada. “A cafeína é a substância mais forte das três, por isso é a preferencial na composição de suplementos”, explica Brito. O fisiologista Michel Santos Silva explica que a 1,3,7 trimetilxantina age em nosso organismo na forma de ATP (adenosina tri-fosfato) e atua no metabolismo energético do organismo, estimulando o sistema nervoso central. Mas a ação dessa substância não para por aí. “Ela atua sobre o metabolismo basal e aumenta a produção do suco gástrico. Promove o relaxamento da musculatura lisa de vasos sanguíneos, o aumento da força de contração cardíaca e o aumento do ritmo cardíaco, promovendo aceleração dos batimentos.”, complementa Silva. Dose de energia O uso da 1,3,7 trimetilxantina como suplemento é muito comum entre os que praticam atividades físicas, porém seus benefícios podem ser melhores percebidos em atividades aeróbicas, como explica Brito.
São em exercícios de longa duração ou nos que utilizam força que a 1,3,7 trimetilxantina irá mostrar toda a sua potência, fazendo com que o atleta continue com energia durante a prática esportiva. Silva explica que, “a substância facilita a lipólise, que é o processo pelo qual há a degradação de lipídios em ácidos graxos e glicerol, e também estimula a quebra de glicogênio, realizada através da retirada sucessiva de moléculas de glicose a chamada glicogenólise”. Para facilitar o entendimento, ela ajuda a liberar carboidratos que atuam como fonte de energia para os músculos. Dessa forma o atleta terá mais disposição durante a prática do exercício. Estudos elaborados nos anos 70 apontaram que, por estimular a liberação de ácidos graxos pelos tecidos de gordura ou pelos músculos esqueléticos, a 1,3,7 trimetilxantina faz com que os músculos exercitados também utilizem essa gordura previamente na atividade física, reduzindo a necessidade de usar o carboidrato do músculo, como explicado acima. Atualmente, a substância possui a sua eficácia comprovada em laboratório somente entre atletas de elite. “Estudos com indivíduos não treinados não puderam ser desempenhados devido à incapacidade deles de confiadamente exercitarem-se até a exaustão”, esclarece Silva. Apesar desses estudos, o especialista afirma que o mecanismo usado para explicar essa melhoria de endurance ainda não está claro. “O glicogênio do músculo é espalhado durante exercícios submáximos seguidos por ingestão de cafeína (5-9mg/kg), porém é desconhecido se o glicogênio espalhado ocorre como um resultado da capacidade da substância de aumentar a gordura disponível para o uso do músculo esquelético”.
Portanto, não se sabe ao certo se essas liberações de carboidratos causadas pela cafeína ingerida pelo atleta podem ser consideradas uma ação ergogênica, ou seja, uma ação que ajuda o organismo a ter mais energia, por mais tempo. Sem exagero Brito explica que houve um tempo em que essa substância era considerada doping. “A metilxantina já esteve na lista de doping. No momento seu consumo é livre, mas monitorado”. De acordo com o profissional, as chances dessa substância voltar a ser considerada doping é muito pequena, pois não há casos de consumo em excesso pelo atletas. A venda da 1,3,7 trimetilxantina é legalizada, como explica Silva. “A ANVISA permite a suplementação de 1,3,7 trimetilxantina, geralmente encontrada em cápsulas de cafeína como alimento para atletas. Apesar dos benefícios listados, o consumo dessa substância pode trazer alguns efeitos colaterais. “Existem inúmeras controvérsias sobre o consumo e problemas relacionados à saúde”, explica Silva, que lista os problemas mais comuns causados pelo consumo de cafeína. “Agitação, ansiedade, irritabilidade, tremor das mãos, insônia, dor de cabeça, irritação gástrica, aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial, nervosismo, dificuldade de concentração, mal-estar gastrintestinal e, com altas doses, o risco de arritmias cardíacas e leves alucinações”.
Por isso, pessoas com problemas cardíacos devem ficar atentas, como alerta Brito. “Geralmente cardiopatas, pessoas com hipersensibilidade, hipertensos e com distúrbios do sono devem evitar o consumo”. Outra questão que merece atenção é que a 1,3,7 trimetilxantina pode causar dependência, “por conta da ação da substância sob o sistema nervoso central”, revela Silva. Para que a substância não perca o efeito e aconteça o vício, é preciso que de tempos em tempos ela não seja consumida. Brito comenta que os sintomas da dependência são sintomas muito parecidos com os viciados em café. “Para não causar perda do efeito ergogênico, deve-se fazer o consumo cíclico, permitindo ao organismo esse período de wash-out ou pausa”, explica. Para não perder o sono O consumo da 1,3,7 trimetilxantina deve ser dosado corretamente, como indica Brito. “Em geral os estudos têm demonstrado que 5mg/kg de massa corporal resultam em efeito ergogênico, acima de 9mg/kg de massa corporal são apresentados efeitos ergolíticos, que podem prejudicar a saúde”, explica. O suplemento deve ser ingerido em horários específicos para não alterar a rotina diária do atleta. “Indicamos entre 30 e 60 minutos antes da atividade física. O importante é evitar usar em horário próximo do sono”, alerta Silva. Algumas substâncias devem ser evitadas quando a suplementação com 1,3,7 trimetilxantina é feita. “O álcool deve ser evitado e outros tipos de suplementos que possam acelerar o ritmo cardíaco e consequentemente o batimento cardíaco”, revela Silva.
O especialista Brito pontua também que não é indicado o consumo de creatina, pois “a cafeína comprovadamente tem efeito anulador da creatina”. BOX – 1,3,7 trimetilxantina x emagrecimento Existem estudos relacionando o consumo da 1,3,7 trimetilxantina ao emagrecimento.“Primeiramente resulta em taquicardia e o aumento da frequência cardíaca contribui para o aumento do gasto energético. A maior disponibilidade de ácidos graxos auxilia para maior catabolismo lipídico durante o exercício”, ou seja, a cafeína irá auxiliar na queima da gordura corporal. “Entretanto deve-se ressaltar que o consumo deste composto em si não resulta em redução da massa corporal. É necessário também que este esteja associado ao exercício físico e dieta hipocalórica”, informa Silva.
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