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Óleo de coco: herói ou vilão das dietas?

Em pouco tempo nas prateleiras, o óleo extraído do coco foi de mocinho a bandido das dietas

Óleo de coco: herói ou vilão das dietas? A ação do óleo de coco pode promover benefícios independente da atividade física.
Crédito: BANCO DE IMAGENS

Emagrece ou engorda, protege ou sobrecarrega o coração, produz energia, sacia, elimina a gordura abdominal? Descubra a verdade sobre o alimento que virou suplemento Ele virou tema de reportagens em jornais, canais de televisão, revistas e portais da internet. De uma hora para outra, o óleo de coco se popularizou e as propagandas estimulando o consumo do suplemento – cheias de depoimentos positivos de quem o utilizou – invadiram a vida de quem está em busca de saúde e boa forma. Porém, ainda há muitas dúvidas sobre o produto: como ele age? Qual é a forma correta de consumir? Como um óleo pode ajudar a emagrecer? Será que realmente funciona? Essas e outras perguntas chegaram à nossa redação e, como uma revista especializada, procuramos os melhores estudos e especialistas para esclarecer o tema. Este primeiro dado a respeito da substância pode te assustar: o óleo de coco chega a ter 92% de gordura saturada! Então como é possível fazer bem para a saúde e não engordar?

A explicação vem de Ivan Blazquez, mestre em Fisiologia do Exercício pela Universidade de New Orleans. “Aproximadamente 64% dessa gordura é composta por triglicérides de cadeia média, também conhecidos como TCM ou MCT. Ou seja, ele tem maior quantidade de TCM do que a maioria dos alimentos existentes!”, revela. Os TCMs têm propriedades diferentes da gordura saturada de origem animal.“Eles são compostos por três moléculas de ácidos graxos de cadeia média mais uma molécula de glicerol, um lipídeo que apresenta rápida absorção e metabolização”, explica a nutricionista Ariane Machado Pereira, da Naturalis Nutrição & Farma. Blazquez complementa, explicando que a substância é absorvida a partir do intestino e vai diretamente para o fígado.

“Ela não passa pelo sistema linfático, como as outras gorduras, e também não necessita da carnitina para o seu transporte, por isso é rapidamente oxidada e utilizada como energia, assim como acontece com os carboidratos”, detalha. Ariane completa, “Por serem rapidamente transformados em energia, possuem uma menor tendência de serem depositados nos estoques de gordura corporal”. Esses fatores também são responsáveis pela sensação de saciedade atribuída ao produto.“É como se ele sinalizasse ao organismo um excesso de energia e, portanto, resultasse em uma saciedade por um período mais prolongado, podendo reduzir o consumo alimentar na próxima refeição”, esclarece Ariane. A especialista em Nutrição Esportiva e Treinamento Físico Denise Entrudo afirma que, hoje em dia, todas as universidades tem pesquisas com o óleo de coco a respeito da perda de gordura abdominal, diminuição do colesterol ruim (HDL) e aumento do colesterol bom (LDL), fatores para a prevenção de doenças cardiovasculares.

Porém, poucas atribuições relacionadas ao emagrecimento são comprovadas cientificamente. “Em relação à perda de peso, os estudos com suplementos à base de óleo de coco são extremamente escassos e de baixo grau de evidência”, diz Denise. Uma das pesquisas mais conhecidas entre os estudiosos foi realizada em Alagoas com um grupo de 40 mulheres entre 20 e 40 anos e notou uma redução de 1,4cm na circunferência abdominal no grupo que recebeu a suplementação com óleo de coco. “Elas foram separadas em dois grupos. Um recebeu óleo de coco e o outro óleo de soja por 12 semanas, aliada a uma dieta hipocalórica e prática de atividade física”, relata. “O perfil lipídico e a perda de peso foi idêntica nos dois grupos. No entanto, os autores verificaram redução de circunferência abdominal no grupo com óleo de coco em relação ao óleo de soja, de menos 1,4cm contra menos 0,6cm”. Mas, como o acompanhamento aconteceu por um período muito curto, a pesquisa não pode ser encarada como taxativa. “Os pesquisadores concluíram que é necessário acompanhamento por um período prolongado para estender tal recomendação a outras populações e que mais estudos devem ser realizados. Além disso, esse mesmo estudo mostrou que a suplementação do óleo de coco teve tendência a elevar os níveis de insulina circulante”, revela.

A Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, também realizou um estudo que ficou famoso no mundo todo, como conta Ariane. “A pesquisa selecionou 49 indivíduos, entre homens e mulheres com sobrepeso, entre 19 e 50 anos. Durante 16 semanas as mulheres consumiram 18gde óleo fonte de TCM ou óleo de oliva, e os homens 24g da mesma substância, como parte de um programa de perda de peso”, explica. “Os resultados foram significantes. O consumo de TCM proporcionou maior perda de peso e gordura total em comparação ao óleo de oliva”. Independente desses benefícios – comprovados ou não – se o seu objetivo é o emagrecimento, compreenda: não existe milagre. Muitas pessoas estão colocando todas as suas apostas no óleo de coco como se fosse uma fórmula mágica para entrar em forma sem precisar colocar o corpo em movimento.

“A ação do óleo de coco pode promover benefícios independente da atividade física. Porém, ele sozinho não proporciona os resultados esperados. Para isso, aconselha-se o consumo associado à prática de atividade física e alimentação equilibrada e saudável”, afirma Ariane. “Se não houver balanço energético negativo, ou seja, mais gasto do que consumo de calorias, não haverá redução de peso efetivamente”. Aceleraaaaaa metabolismo Blazquez lembra que diversas pesquisas estão revelando claramente que os TCMs são termogênicos e atuam acelerando o metabolismo para que haja um maior gasto calórico ao longo do dia. A nutricionista Ariane detalha um desses estudos: cientistas investigaram o efeito térmico do consumo de diferentes proporções entre TCM na dieta de homens saudáveis durante 24 horas em câmara respiratória.

Os autores verificaram maior gasto energético nas proporções mais elevadas de TCM. “O efeito termogênico do TCM também foi estudado por períodos mais longos de suplementação, comprovando-se o maior gasto energético em comparação aos TCLs – triglicérides de cadeia longa”, conta a nutricionista. Um ácido que previne inflamações e destrói bactérias Outros benefícios do óleo de coco advêm da presença de uma substância chamada ácido láurico, que foi o alvo inicial dos estudos, antes mesmo que os cientistas ficassem curiosos sobre o óleo extraído a partir da polpa do coco maduro. “Como o coco é rico neste ácido, passou a ser utilizado nas pesquisas”, conta a nutricionista esportiva Denise Entrudo. É exatamente este ácido o responsável por atribuir ao óleo de coco diversas ações positivas para o organismo. Ele inibe a ação de substâncias inflamatórias presentes em quadros reumáticos, em casos de artrites e inflamações musculares. Além disso, melhora o sistema imunológico. “Quando o ácido láurico é absorvido, ele é quebrado e se transforma em monolaurina, substância que destrói a membrana de lipídios que envolvem os vírus, inativando as bactérias, leveduras e fungos”, diz. Um aliado ao bodybuilding Para conseguir bons resultados e chegarem “rasgados” nas competições, os atletas de bodybuilding reduzem ao máximo o consumo de gordura.

Mesmo assim, ainda precisam ingerir uma quantidade mínima necessária para manter as reservas de gorduras essenciais, como das membranas que cobrem órgãos e nervos, por exemplo. “Com o óleo de coco, a maior parte da gordura saturada será utilizada como energia e muito pouco poderá ser armazenado organismo”, comenta Ivan Blazquez. Esta pequena quantidade que não é oxidada será utilizada para estimular e auxiliar na produção natural de testosterona no organismo, que é necessária para a manutenção e desenvolvimento muscular. “Vários estudos têm mostrado que uma dieta com baixo consumo de gorduras saturadas pode diminuir a produção de testosterona, e o óleo de coco ajuda a manter os níveis deste hormônio estáveis, colaborando para um bom resultado muscular”, diz. Como consumir? Existem várias maneiras de se consumir o óleo de coco e nós mostraremos as mais indicadas por profissionais. Primeiro, de uma forma mais natural, você pode utilizá-lo no preparo dos alimentos, substituindo outras gorduras. A quantidade sugerida pela maioria dos médicos que consultamos varia de uma até três colheres de sopa por dia. “Para ter ação anti-inflamatória, a dose usual é de 1 a 2g de óleo de coco extravirgem ao dia”, recomenda a nutricionista funcional Regina Longano. Ivan Blazquez, que também é atleta de fisiculturismo, conta que inclui o óleo de coco como parte de sua alimentação do dia a dia e não como um suplemento. “Geralmente eu adiciono óleo de coco aos cereais e à granola, e também fica muito gostoso com waffles sem glúten, por exemplo”, ensina. Sobre o horário ideal, a maioria dos especialistas afirma que o melhor é antes das principais refeições, como o almoço e o jantar. “

Neste horário nosso pH orgânico está mais preparado para a absorção de nutrientes e o suplemento poderá interagir com os demais nutrientes da alimentação, tendo uma ação mais completa”, explica Regina. Para algumas pessoas o uso deste suplemento não é recomendado. “É sempre importante fazer a avaliação do caso, mas não faço a indicação para pacientes com diagnóstico de doenças como diabetes e esteatose hepática”, diz a nutricionista esportiva Denise Entrudo. A consultora da Hammer Nutrition, Marina Rosalem amplia a lista do grupo que deve ter cuidado ao consumir o suplemento. “Pessoas em dietas com restrição de gorduras (hipolipídicas) devem começar com pequena quantidade, o equivalente a meia colher de sopa, e aumentar o consumo gradualmente”, indica. “Para crianças abaixo dos três anos a orientação deve ser feita sob supervisão de médico ou nutricionista”, finaliza.

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