Maria Beatriz Piraí de Oliveira Médica Ginecologista, Obstetra, Especialista em Sexologia Clínica e Patologia do Trato Genital Inferior (IBCC)
Sexualidade é definida pelo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa como:
1. Qualidade sexual.
2. Sexo
3. Os conjuntos dos fenômenos da vida sexual.
Mas quando, em se tratando desse tema, descobrir o que é uma resposta sexual normal?
O primeiro ponto é saber que as reações ligadas à sexualidade estão divididas em três fases:
1- Desejo: inicia-se com estímulos sexuais diversos, como visuais, auditivos, táteis, entre outros, que quando são contínuos e agradáveis para quem recebe evoluem para a outra fase que é a...
2- Excitação: esta fase é dependente do desejo e já começa a apresentar sintomas no corpo, como por exemplo, a lubrificação vaginal, rubor facial, aumento do ritmo circulatório e frequência cardíaca. São liberados diversos hormônios nesta fase como a testosterona, por exemplo, e também óxido nítrico, que em conjunto promovem uma congestão vascular da vagina e proeminência do clitóris. E pode parar por aí, sendo extremamente gratificante para a mulher.
3- Orgasmo: Quando a mulher atinge um nível máximo de excitação, os genitais estão muito vascularizados e ocorre uma liberação rápida da tensão sexual, percebida como pequenos movimentos de contração genitais e extragenitais, desencadeando o orgasmo.
Logo após esta liberação da tensão segue-se a fase de relaxamento, porém sem estar associado como sono, diferentemente dos que ocorre com os homens. Visto e entendido os mecanismos de resposta sexual, nos deparamos com as queixas mais comuns em consultas médicas: a perda de libido, dor durante a relação sexual e a dificuldade de orgasmo. O médico deve pesquisar doenças que podem levar a estes casos como, por exemplo, diabetes ou quadros depressivos. Os grandes dilemas aparecem quando não existem doenças físicas que justifiquem as queixas acima. Muitas mulheres não aceitam que a causa pode ser o parceiro, o estresse intenso ou até mesmo a falta de familiaridade com o próprio corpo.
O corpo feminino
Este item já daria uma revista inteira, mas vamos tentar resumir as principais alterações sexuais causadas pela nossa psique:
-Achar-se insatisfeita com o próprio corpo;
-Imaginar que o parceiro não aprova o seu corpo; -Vergonha dos seus órgãos genitais;
-Falta de aceitação de estímulos clitorianos por crenças erradas (é sujo, é feio, etc.);
-Preocupação excessiva com orgasmo vaginal, esquecendo-se dos prazeres do resto do corpo.
Durante a pesquisa para este artigo pude perceber que a mulher fisiculturista não tem estes tipos de encanações, pois seu foco é outro: ter um corpo perfeito para competição e para seu espelho. Ela tem um objetivo definido em relação ao corpo e segue à risca todos os desafios para conseguir e manter. Faz e acontece! A mulher fisiculturista se vê como um todo, diferentemente das outras, que se incomodam apenas com a barriga ou bumbum, ou ficam preocupadas com um local de celulite ou um peito caído. A maioria das mulheres deseja ser emagrecida e não emagrecer; deseja uma fórmula miraculosa que passe no corpo ou tome e acorde no dia seguinte maravilhosa. Poucas correm atrás e fazem acontecer. Partindo para o lado psicológico, ainda existe o preconceito, tanto masculino quanto feminino. Para a maioria dos homens que não pratica bodybuilding, a atração sexual em relação à mulher fisiculturista ocorre movida principalmente por curiosidade física e sexual apenas, geralmente costuma ser evento único.
Leia-se novamente: para a maioria. Para os homens em contato direto e contínuo com atividade física, como preparadores, praticantes, admiradores, a atração ocorre por diversos motivos além da atração física, como envolvimento emocional, por exemplo. Pena que no panorama mundial estes sejam uma pequena parte. Ainda existe preconceito por parte da maioria dos representantes da ala masculina em relação ao tipo físico da atleta ser superior ao deles, o medo de ser criticado pela parceira ou até mesmo o receio de não dar conta do recado com uma “mulherona”. Muitas fisiculturistas sentem-se intimidadas para tomar a iniciativa na paquera fora do ambiente de treino, principalmente pelo medo da rejeição por parte do homem, devido principalmente à crenças e idéias errôneas. No modelo antigo de sociedade era o homem a criatura máscula, cheio de músculos e que escolhia as mulheres. Infelizmente ainda existem homens e algumas mulheres com esta linha de raciocínio. As atletas tem a sua libido aumentada como veremos a seguir: a atração sexual é normal, mas o relacionamento duradouro geralmente é com homens que admiram e praticam bodybuilding, pelos motivos acima citados.
O uso indiscriminado de anabolizantes à base de testosterona, como a oxandrolona, por exemplo, além dos efeitos colaterais nocivos para saúde e para a mulher como o aumento da virilização, ou seja, o engrossamento da voz, aumento do volume de pelos e o aparecimento de acne, também age diretamente na sexualidade: aumenta a libido e o clitóris, tornando-o muito mais sensível. Essa é a única mudança, digamos, saudável, do uso da testosterona, que também é utilizada em casos de alterações sexuais relacionadas à menopausa. Mas os suplementos como óxido nítrico, creatina, L carnitina e BCAA não têm impacto direto na sexualidade: o desejo e a resposta sexual continuam como sempre foram ,não se alteram pelo uso de suplementos ou pelo ato de exercício físico com altas cargas. Alguns profissionais manipulam fórmulas contendo, entre outras, uma substancia chamada Tamoxifem, que originalmente é usada no tratamento do câncer de mama. Mesmo em baixas doses o uso desta medicação diminui a libido e não deve ser usada em mulheres em idade reprodutiva. Em resumo: a sexualidade da fisiculturista é a mesma da mulher não praticante de exercícios físicos, porém com neuras e encanações diferentes.
Se a dona de casa está cansada da labuta diária de “mãetorista”, cozinheira e faxineira a atleta esta cansada pelo treino. Se o parceiro é compreensivo e com aquele jeitinho brasileiro vai chegando de mansinho no pé de ouvido, as duas mulheres do exemplo não resistem muito tempo. Mas sempre é bom relembrar: não existe nenhum medicamento que induza ao desejo sexual: não tem nenhum comprimidinho que a mulher tome e daqui uns 5 ou 10 minutos pare tudo o que está fazendo porque apareceu a vontade de fazer amor (ou sexo). Não caia em propaganda enganosa ou promessas miraculosas.
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