A incidência de doenças orificiais na população em geral é de 5% e acomete na mesma proporção homens e mulheres. Apesar do incômodo, muitos pacientes postergam o diagnóstico e o tratamento, o que pode agravar o seu quadro clínico.
O gastroenterologista Renato de Araújo Pereira, da clínica Gastroinclusive, especialista pelo Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva e membro da Society for Surgery of The Alimentary Tract, alerta para um fator comum de desencadeamento destes problemas, em especial da fissura anal: a constipação intestinal, popularmente conhecida como “prisão de ventre”, quando o paciente evacua com pouca frequência (uma vez a cada três ou quatro dias ou mais) ou sob grande esforço, com fezes excessivamente duras e pequenas. A constipação intestinal acomete mais mulheres do que homens, numa proporção de 3 para 1, com predominância durante a gravidez, devido ao aumento da pressão abdominal.
O tratamento da fissura anal e da hemorroida é simples e eficaz quando adotados melhores hábitos alimentares e higienização adequada. “Ao tratar o fator desencadeante, conseguimos prevenir o surgimento do problema ou conter a sua evolução”, diz o médico. Neste sentido, é importante adotar uma dieta rica em fibras e com muita hidratação, que melhoram a consistência das fezes e aumentam a frequência evacuatória.
Com similaridade nos sintomas, como dor e sangramento nas evacuações e coceira local, tanto a fissura anal como a hemorroida exigem cuidados especiais, tratamentos e procedimentos clínicos específicos.
Entendendo a fissura anal
Trata-se de uma úlcera, um pequeno machucado, como um lábio rachado na mucosa do canal anal, que ocorre em grande parte das vezes pelo atrito causado por evacuação ressecada, uso excessivo de papel higiênico e falta de uma correta higiene anal. Muitas vezes, costuma ser mais dolorida do que a hemorroida. “Fazer a higienização da região com água, após as evacuações, diminui o atrito causado pelo papel higiênico”, diz o gastroenterologista.
O tratamento da fissura anal geralmente requer apenas alterações nos hábitos alimentares para uma melhor função intestinal, com ingestão de fibras, por exemplo, além de banhos de assento com água morna e medicamentos de uso tópico, que devem ser indicados pelo médico.
Em 10% dos casos, quando a úlcera evolui, ou seja, torna-se crônica, são necessários procedimentos cirúrgicos, como a esfinterectomia, corte de uma pequena porção do músculo do esfíncter anal. O procedimento tem boa cicatrização em 90% dos casos, embora possa causar incontinência em 5% dos pacientes, mas que geralmente regride com passa do tempo. Também é possível remover a fissura, através de um procedimento cirúrgico que recobre com um retalho cutâneo-mucoso.
Entendendo as hemorroidas
São veias dilatadas ao longo do canal anal que quando sofrem um trauma se rompem e sangram. A hemorroida também pode ser corrigida com mudanças higiênico-dietéticas, alimentação rica em fibras e boa hidratação, que melhoram a consistência das fezes e aumentam a frequência evacuatória. Em contrapartida, deve-se evitar sempre o consumo de pimenta, curry e outros condimentos apimentados. A higienização da região com água, após as evacuações, também diminui o atrito causado pelo papel higiênico.
A hemorroida é classificada como interna e externa. Na interna, é subdividida em 4 graus: grau 1 mais, mais leve, pode ser tratado clinicamente e é exclusivamente interno; grau 2, também tratado clinicamente, porém se exterioriza e regride espontaneamente; grau 3, necessita de intervenção cirúrgica, é interno, se exterioriza, mas a regressão ocorre somente quando colocada para dentro, e o grau 4, mais grave, quando a hemorroida é interna e se exterioriza, mas não regride sozinha. “O tratamento dos casos mais leves evita a evolução para outros mais críticos (graus 3 e 4). Por isso é importante procurar um especialista logo no início”, explica o gastroenterologista.
Nos casos mais críticos, pode ocorrer a trombose hemorroidária, quando o sangue dentro da hemorroida coagula (endurece), causando dor intensa e a presença de um “caroço” na região anal.
Além dos fatores gerados pela constipação intestinal, a hemorroida também ocorre por aumento da pressão abdominal, o que leva ao aumento da pressão nos vasos anais, como acontece comumente em grávidas e pessoas obesas. A hemorroida tende a se agravar em indivíduos que já estão na terceira idade, pois as veias localizadas na região anal perdem a complacência, a capacidade de elasticidade e, por isso, se dilatam com mais facilidade.
O tratamento das hemorroidas menores é clínico, enquanto que nas maiores a cirurgia (hemorroidectomia) é a melhor opção.
Nos casos mais simples, pode-se adotar cuidados caseiros, como o uso de medicamento tópicos, pomadas com corticoides que ajudam a reduzir a dor e o inchaço, ou com lidocaína, que reduz a dor, e ainda com emolientes, que ajudam a reduzir o esforço e a constipação. Os banhos caseiros de assento com água morna também são indicados.
Nos casos mais graves, as alternativas são intervenções cirúrgicas e não-cirúrgicas. A melhor opção não-cirúrgicas é a coagulação infravermelha, em que uma sonda com luz infravermelha é aplicada no local e os vasos que levam sangue à região são coagulados. Este procedimento geralmente é rápido, tem baixo índice de complicações e a eliminação de alguns tecidos desaparecem em algumas semanas. Outra alternativa não-cirúrgica é a indicação de injeções nas veias inflamadas para diminui-las.
Os dois principais tratamentos cirúrgicos mais adotados são a ligadura elástica e a hemorroidectomia, neste caso quando o paciente sente muita dor e a hemorragia grave não cessa com tratamentos caseiros e não-cirúrgicos.
A ligadura elástica consiste em amarrar alguns elásticos na base das veias inflamadas para cortar a circulação. Em poucos dias as hemorroidas caem sozinhas durante a evacuação. Na hemorroidectomia, considerado tratamento “padrão” para os casos em que o paciente tem hemorroidas recorrentes, são retiradas as veias inflamadas que causam sangramento e dor.
Diferenciando o sintoma da hemorroida e do câncer de cólon
É comum que algumas pessoas se assustem ao perceber sangramento após a evacuação, pensando ter alguma relação com câncer colorretal. O gastroenterologista Renato Pereira esclarece que nos casos de hemorroida, o sangramento é percebido na água do vaso sanitário ou no papel higiênico, assim como acontece em pacientes com fissura anal. No caso do câncer colorretal, o sangue permanece em meio às fezes. O médico Renato Pereira ressalta que em todas as situações é imprescindível procurar ajuda profissional para o diagnóstico e tratamento corretos.
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