O Dia Mundial de Combate às drogas foi instituído com o objetivo de lutar contra o tráfico e diminuir o número de dependentes. “As drogas, principalmente o álcool, afetam os neurônios, comprometendo as ligações entre eles, o que prejudica o processo cognitivo”, comenta o clínico geral do Hospital e Maternidade São Cristóvão, Dr. Vagner Nakayama.
As três drogas ilícitas mais comuns são: a maconha, a cocaína e o “crack”. De acordo o Dr. Vagner, a primeira é responsável por danos à memória e pela síndrome amotivacional (perda de energia, cansaço, apatia, falta de motivação, desinteresse, inabilidade de realizar planos para o futuro, falta de ambição, queda no rendimento dos estudos ou trabalho, entre outros sintomas). “Também pode apresentar sinais psicóticos, como delírios, alucinações, alterações comportamentais, principalmente nos usuários com predisposição genética para a esquizofrenia”, relata o profissional. Ainda, há prejuízos físicos devido à fumaça inalada, aumentando as chances de inflamações e infecções nas vias respiratórias, como faringites, sinusites, bronquites e pneumonias.
Já a utilização da cocaína provoca aumento dos batimentos cardíacos, da pressão arterial, da frequência respiratória, dilatação das pupilas, tremores e sudorese, arritmias cardíacas, infarto e acidente vascular cerebral (AVC). “O dependente de cocaína também transparece algumas mudanças comportamentais, como agitação motora, inquietação, insônia, euforia, irritabilidade, impulsividade, perda do apetite, além de alucinações visuais e táteis”, detalha.
A “pedra de crack” também tem seus danos físicos e psicológicos. É uma mistura da pasta de cocaína com água e bicarbonato de sódio. “Essa droga é fumada com o auxílio de cachimbo ou similares, o que faz com que em menos de dez segundos a fumaça inalada atinja os pulmões, a corrente sanguínea e o cérebro”, descreve o especialista. Segundo ele, a sensação inicial é de prazer, mas depois vem a ansiedade, preocupações, irritabilidade, perda do apetite e insônia. Quanto às consequências físicas, são as mesmas da cocaína.
Uma das maiores dúvidas da ciência até hoje é como acontece o vício. O clínico geral explica que muitos estudos acreditam que as drogas ativam o chamado circuito de “recompensa cerebral”, o qual ocorre no sistema límbico, responsável pelas emoções. Esse sistema começa no tronco cerebral, que é a área em que os impulsos elétricos são gerados a partir do uso das substâncias químicas, e vai até o córtex pré-frontal, região responsável pelo comportamento emocional. “Os neurônios presentes aí são dopaminérgicos, então as drogas estimulam a produção e liberação de dopamina, substância relacionada ao prazer. A dopamina é o principal neurotransmissor do sistema límbico e sua hiperatividade é o elo comum entre todas as dependências químicas. O excesso desse neurotransmissor provoca destruição de neurônios, o que leva à perda do livre arbítrio do usuário, o qual não apresenta mais poder de escolha”, explica. No entanto, ele ressalta que há atividades capazes de aumentar a liberação da dopamina de maneira saudável, como praticar esportes, sair com os amigos, namorar, ir ao cinema, entre outros lazeres.
Caso haja suspeita de alguém próximo estar se tornando dependente químico, o médico aconselha a ficar atento a estes sinais: alteração de personalidade e de humor, irritabilidade constante, baixa tolerância à frustração, impulsividade, não seguir regras, atitudes irresponsáveis e agressivas, falta de motivação para as atividades do dia a dia, baixa autoestima, negligência quanto aos cuidados com a higiene pessoal, além de sintomas físicos como fadiga, dores de cabeça, enjoos, entre outros. Ele alerta ainda quanto ao comportamento na escola, faculdade ou trabalho, que pode envolver perda de interesse, queda no rendimento, atrasos, faltas injustificáveis, problemas disciplinares, abandono dos esportes e desleixo nas vestimentas.
Para o tratamento, o clínico esclarece que existe uma série de fatores investigados por um psiquiatra especialista neste tipo de transtorno, o qual analisará o tipo de droga consumida, o padrão de uso (quantidade e frequência), tempo da dependência, prejuízos sociais, ocupacionais e acadêmicos, o grau de consciência sobre o vício e muitos outros detalhes. “A clareza do especialista na determinação do programa de tratamento com formulação de metas a serem atingidas é fundamental. A participação da família também deve ser essencial. O objetivo precisa ser a busca constante pela abstinência, a retomada dos estudos e do trabalho, do lazer, da prática esportiva e das relações interpessoais”, finaliza.
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