SAÚDE E SUPLEMENTAÇÃO INFANTIL

Saúde e suplementação infantil: Transtornos alimentares na infância

Todo cuidado é pouco quando casos de anorexia e bulimia podem ser registrados nesta fase da vida

Saúde e suplementação infantil: Transtornos alimentares na infância

Dra. Danielle Fava

Nutricionista

CRN3 26112

Graduada pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, pós-graduada em Saúde da Família pela UGF. Experiência em nutrição clínica e ambulatorial, desenvolvidos em hospital, consultório, ambulatório e unidade básica de saúde, com foco em nutrição clínica, materno-infantil, geriatria/gerontologia, psicologia da alimentação e educação nutricional. Trabalha com abordagem da Nutrição comportamental e conceitos da Alimentação Intuitiva e Consciente (Intuitive Eating e Mindful Eating).

As preocupações com uma alimentação saudável, quando excessivas, podem ocasionar comportamentos disfuncionais não apenas em adultos. Cada vez mais cedo, crianças têm apresentado transtornos alimentares e de imagem, uma vez que os padrões de beleza atuais são fortemente centrados na magreza e a insatisfação corporal tem se tornado comum, tanto em homens como em mulheres.

Crescendo nesse meio, as crianças já se tornam vulneráveis e associado a outros fatores preditivos de problemas alimentares na infância, o que vemos é um maior número de casos de crianças e adolescentes com anorexia, bulimia e outros transtornos alimentares não especificados.

Outro fator que contribui fortemente para o desenvolvimento dos transtornos alimentares na infância são as regras alimentares rigorosas. O medo de que os filhos não garantam uma nutrição saudável, levam muitos pais a exagerarem nas regras no que concerne à alimentação e, a longo prazo, a associação negativa entre alimentação, peso e forma corporal, pode gerar um controle alimentar excessivo por parte da própria criança e não mais dos pais.

Embora sejam poucos os estudos realizados no Brasil sobre a prevalência de transtornos alimentares em crianças e adolescentes, geralmente, os hábitos alimentares distorcidos começam a ser percebidos em crianças acima dos sete anos, sendo a anorexia muito mais prevalente. A anorexia é caracterizada pela recusa em alimentar-se adequadamente, associada ao medo intenso de engordar e com grande distorção da imagem corporal, ou seja, a criança ou o adolescente considera-se gordo mesmo estando bem abaixo do peso.

A anorexia pode ser de dois tipos: restritiva, onde a pessoa passa longos períodos sem alimentar-se e a purgativa que pode estar associada a práticas compulsivas após os longos períodos de jejum que são compensadas com excessos de exercícios físicos e/ou uso de substâncias laxantes e diuréticas.

A bulimia é um comportamento distorcido no qual episódios de comer compulsivamente são seguidos de comportamentos compensadores, geralmente vômitos provocados. É mais comum em adolescentes e, embora este também apresente medo em ganhar peso e tenha também uma visão distorcida de seu corpo, geralmente seu peso é adequado ou até pode estar acima do peso.

 

IDENTIFICANDO OS FATORES

Os episódios bulímicos são seguidos de culpa, para compensá-los, geralmente há um período de restrição alimentar, mas voltam a perder o controle e caem novamente no ciclo de comer compulsivo e comportamento compensador.

Os transtornos não especificados são aqueles que não se enquadram na anorexia e nem na bulimia. Podem ser apenas a compulsão alimentar sem qualquer espécie de forma de compensação purgativa ou então uma preocupação excessiva em consumir apenas alimentos saudáveis (comer apenas alimentos diet/light/fit).

Apesar das influências ambientais, familiares e culturais, os transtornos alimentares também possuem causas biológicas, genéticas e familiares. Por isso, o tratamento é muito difícil e desafiador, pois a identificação dos fatores, principalmente em crianças muito pequenas, pode ser confundida com outros fatores de seletividade alimentar ou de inapetência temporária, condições comuns na infância.

Além disso, as pessoas com transtorno alimentares costumam esconder muito bem os sinais e sintomas da doença, até mesmo as crianças. É muito comum as crianças fingirem que comem ao esconder a comida na roupa, dar aos animais de estimação da casa, distribuir o lanche da escola para os colegas, etc. A individualização das refeições familiares também contribui para dificultar a identificação, pois cada membro da família acaba se alimentando em horários diferentes e, muitas vezes, até tipos de alimentos diferentes.

Os transtornos alimentares são mais prevalentes em mulheres e sabe-se que a relação mãe-filha é um fator que pode contribuir para a presença de um padrão funcional mais suscetível, uma vez que as mulheres são muito mais pressionadas pela manutenção de um padrão de beleza. Mães que fazem dieta balizam o comportamento alimentar de seus filhos e podem causar uma reação adversa quando não bem manejado.

Outro ponto a ser considerado são crianças que praticam esportes cujo peso é importante para a performance como ballet, ginástica artística e lutas.  Os pais e treinadores precisam sempre estar em alerta para quaisquer sinais que possam sugerir que algum tipo de transtorno alimentar possa estar presente.

O manejo dos transtornos alimentares requer acompanhamento médico, nutricional, psicológico, psiquiátrico e de toda uma equipe multidisciplinar. Em casos mais graves, há necessidade de internação para reestabelecimento do estado nutricional. O papel dos pais é dar amor e acolhimento, sem críticas. Talvez esse seja o aspecto mais importante: ao primeiro sinal de que seu filho esteja em um possível desenvolvimento de transtorno alimentar, diga não às críticas e sim ao acolhimento.

Pois é dessa forma que você conseguirá trazê-lo para junto de si e dar seguimento ao tratamento adequado. Lembre-se que a questão de manter o peso, o corpo em forma e uma alimentação equilibrada e saudável é sim muito importante e traz inúmeros benefícios. Mas a linha para o desequilíbrio é muito tênue e precisamos sempre estar atentos.

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