O número de famílias formadas entre pais e mães de cachorro é nitidamente crescente. Conhecidas como “família multiespécie”, a tendência de incluir animais de estimação no novo modelo parental é algo visível no mundo todo. Se antes os padrões eram os laços sanguíneos, hoje vemos que essas uniões são composições afetivas entre homens, mulheres, filhos e pets, especialmente os cães.
Essas mudanças seriam positivas se os pets não se sobrecarregassem de sentimentos humanos. "É compreensível que a quarentena tenha trazido incertezas, medo e mexido com o emocional de todos. A atenção constante aos pets pode agravar síndromes que já eram presentes no comportamento do animal ou provocar situações que passarão a aparecer nos bichos", afirma Laís Cauner, comportamentalista canina e adestradora.
A questão é: “Como evitar o surgimento de grandes problemas quando sairmos do isolamento social e os cães não terem nossa presença no ambiente 24 horas por dia?”
A resposta começa em entender como se cria, de forma doentia, a dependência do bicho na inclusão dos animais de estimação em nossa esfera humana.
A teoria da Biofilia afirma que os animaizinhos são bio indicadores de ambientes, ou seja, se o pet está tranquilo é porque o ambiente está calmo e assim era desde os agrupamentos pré-históricos da humanidade. Pergunte-se: você e os seus convivem em um momento pacífico?
Outra teoria que está em crescente afirmação é a do apego. O estudo do comportamento animal na relação interespécies aponta que há nos bichos o fenômeno denominado imprinting: “O bicho tem um instinto inato de aprendizado, gravado no cérebro, na hora do nascimento ou na fase de dessensibilização, e no caso dos cães, a mente canina se abre como uma janela social para reconhecer quais serão as espécies de convivência social, futuras, do indivíduo”, comenta Laís.
Isso explica a facilidade dele se apegar a possíveis overdoses de apegos humanos. Sabendo disso, cientificamente, a correção emergencial a todos os tutores é parar de oferecer carinho excessivamente.
Do apego ao hiperapego. Agora, mais do que nunca, com a presença física da família em casa, é comum também o excesso de comida aos pets, outro indício ruim. "Não façam isso, nem por um final de semana! Se você está comendo fora de hora por ansiedade ou mudança de rotina na quarentena, é preciso entender que não podemos errar igualmente com os animais. O correto seria inclusive diminuir a quantidade de alimento oferecido aos pets e não aumentar as bolachinhas e “bordas de pizza”, já que eles, privados de passeios, diminuíram o gasto de energia. Pra quem está em casas de grandes quintais ou sítio, aí a resposta é: aumentem ao máximo as atividades", completa Laís.
Quarenteners: crie diretrizes e rotina para o bem desse membro da família:
•Se antes da quarentena você mantinha alimentação duas vezes ao dia, mantenha isso agora!
•Se ofertava um biscoito de manhã e um a noite, não passe a dar três a cada hora. Esse desequilíbrio pode provocar doenças, hiperapego ou até desencadear processos de disfunção como coprofagia, que é um comportamento também ligado a saúde emocional dos cães.
•Aproveite o seu tempo para melhorar a rotina deles! Descer e subir escadas para quem mora em apartamentos. Fazer rodizio das brincadeiras de enriquecimento ambiental e também dos brinquedos, para o cão não enjoar dessa atividade e não liberar a casa toda, são atitudes possíveis a todos!! Escolha um cômodo proibido e não permita o acesso a esse ambiente, criando regras e limites, eles adoram.
Última dica é proporcionar a seu animal de estimação um local de descanso confortável e em que ele fique sozinho, em alguns momentos, nesse ambiente adequado. Em repetição ele associará o local como prazeroso. Você pode ensinar comandos e ele irá aprender a relaxar nesse local, de maneira calma e assertiva.
Você é responsável pela saúde e pelos hábitos do seu cão, todos os dias!
Fonte: Lais Cauner é comportamentalista canina, adestradora e tutora de 5 cães. É Consteladora Familiar para Pets e Proprietária da Loja Eu & Meu Bicho.
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