Dr. Edson Carlos Z. Rosa
Cirurgia da Face
Fisiologia Humana Geral e do Esporte
Doutor em Ciências Médicas (h.c)
Pesquisador em Medicina Metabólica Humana com foco no esporte e exercício
Instagram: @doutoredsonrosa
Facebook: Dr. Edson Rosa
Frequentemente, ouvimos falar, nos veículos de comunicação, sobre a importância da prática de esportes para a manutenção da saúde física, bioquímica e mental, como também para a longevidade e qualidade de vida no decorrer da vida.
Sem dúvida alguma, os esportes são essenciais para o equilíbrio bioquímico/metabólico do nosso corpo, ou seja, equilíbrio interno. Com a prática esportiva regular, podemos diminuir a ocorrência de uma série de doenças crônico-degenerativas tais como hipertensão, diabetes, doenças cardíacas, obesidade, osteoporose, dentre outras. Com a prática de exercícios físicos, também ocorre uma melhora nos aspectos físicos, aumentando a tonicidade muscular, melhorando a postura e diminuindo dores articulares, dores de coluna etc. Já na população idosa, os benefícios são inúmeros, levando a uma grande melhora na qualidade de vida, com a prevenção de eventuais ocorrências de quedas, dando maior mobilidade ao idoso e, consequentemente, maior independência de locomoção.
Enfim, a influência positiva da prática esportiva na vida de um ser humano é inquestionável, pois cada vez mais estudos científicos são lançados, provando os inúmeros benefícios no dia a dia dos indivíduos saudáveis e, até mesmo, dos indivíduos acometidos por alguma doença, que podem ser beneficiados por exercícios físicos ou esportes quando são prescritos de forma correta e orientados por profissionais capacitados.
Mas, o que muitas pessoas não sabem, ou melhor, o que a maioria da população feminina talvez não saiba é que os exercícios físicos intensos ou extenuantes podem acarretar alguns distúrbios hormonais na mulher atleta ou praticante de atividades físicas intensas.
Dentre esses distúrbios, destacamos algumas alterações nos hormônios sexuais que, ao diminuírem sua secreção, podem levar ao quadro que chamamos de amenorreia, ou seja, ausência do fenômeno de menstruação na mulher.
Essa ausência de menstruação durante a vida feminina pode ocorrer de 2 formas:
Amenorreia primária: ocorre antes da primeira menstruação na menina (menarca), caracterizada por um atraso na época da menina ter a primeira menstruação. Esse período de atraso, chamamos de amenorreia primária.
Já a amenorreia secundária, ocorre entre mulheres que já menstruaram normalmente, mas têm o ciclo interrompido por três meses ou mais. Por outro lado, as menstruações irregulares que atrasam alguns dias ou semanas, chamamos de atrasos de menstruação.
Amenorreia ligada aos esportes (AME)
A amenorreia causada pela prática esportiva, podemos chamar de amenorreia esportiva (AME), podendo ser definida como uma disfunção hormonal menstrual que ocorre em atletas e pode englobar a amenorreia primária, a amenorreia secundária ou mesmo mudanças no ciclo menstrual. Ou seja, a ausência de menstruação induzida pelo esporte pode acometer meninas atletas pré-púberes que ainda não tiveram sua primeira menstruação, levando ao atraso da menarca, como também mulheres atletas que têm menstruações frequentes, mas que podem desenvolver alguma interrupção menstrual por alguns dias ou meses.
As causas mais comuns de amenorreia no esporte são: excesso de treino, estresse fisiológico e bioquímico e estresse psicológico decorrente dos treinos. Fatores também como: composição corporal inadequada, em que a diminuição drástica do consumo de gorduras por restrição a determinado esporte pode diminuir consideravelmente a gordura corporal, levando a distúrbios de menstruação, já que a gordura é um dos fatores bioquímicos de produção de estrogênios. Esses fatores acabam muitas vezes levando a diminuição da secreção de alguns hormônios hipofisários, tais como hormônio luteinizante (LH), hormônio folículo estimulante (FSH), que agem estimulando os ovários e, por consequência, a sua diminuição ou ausência diminui também a produção de estrógeno, trazendo o quadro de amenorreia ou alterações do ciclo menstruação.
Embora algumas mulheres avaliem a amenorreia como um efeito colateral desejável do exercício (já que não precisam mais lidar com os desconfortos da menstruação), uma grande parte tem consciência de que a falta da menstruação está ligada à problemas de saúde. Poderia dizer que um dos principais agravantes da ausência de estrógeno, seria a perda de cálcio nos ossos que aumenta com a diminuição do estrogênio, estabelecendo uma incidência quase três vezes maior de fraturas por estresse em mulheres atletas que apresentam amenorreia (24% em atletas sem menstruação ou com menstruação irregular versus apenas 9% das atletas com períodos regulares). Além disso, podemos dizer que mulheres que se recuperam de uma amenorreia podem restaurar parte (mas não toda) da densidade óssea perdida, o que demonstra a importância da prevenção da osteoporose precoce em mulheres com deficiência estrogênica.
Segundo alguns estudos realizados, a prevalência de amenorreia ligada ao esporte é maior em atletas corredoras e bailarinas, sendo essas mais sujeitas ao problema do que as praticantes de outros esportes.
Como podemos ver, os exercícios extenuantes executados em esportes de alta intensidade metabólica gera um estresse bioquímico fisiológico no organismo, sendo este associado a um estresse psíquico e ao baixo consumo de gorduras, podendo levar mulheres atletas a apresentarem quadros clínicos de amenorreia secundária. Porém, é importante ressaltar que alterações hormonais com ausência de menstruação podem ter diversas outras causas. Vamos falar um pouquinho dessas demais causas de amenorreia abaixo.
Principais causas de amenorreia não associada ao esporte
Alguns outros fatores podem desencadear ausência ou alterações menstruais tais como a gravidez, a menopausa prematura (antes dos 40 anos) também conhecida como falência ovariana, o uso prolongado de contraceptivo à base de progesterona, uso de medicamentos (como, por exemplo, esteroides anabólicos androgênicos), o estresse emocional não associado ao esporte, a perda de peso repentina, a obesidade, distúrbios endócrinos como o hipertireoidismo, síndrome do ovário policístico (SOAP), alterações da glândula suprarrenal, além da existência de tumores ovarianos e do sistema nervoso central (tumores de hipófise e hipotálamo).
Dessa forma, o diagnóstico do quadro de amenorreia deverá ser auxiliado com o pedido de determinados exames, como exames sanguíneos (Beta HCG, Dosagem hormonal), exames de ecografia, como ultrassom pélvico para observar possíveis anormalidades nos órgãos reprodutivos (útero e ovários), além da obtenção do histórico da paciente, onde serão observados fatos relevantes da vida diária, como alimentação, prática de esportes, ambiente familiar e de trabalho (estresse psíquico), histórico de cirurgias, uso de medicação etc.
Dentre o tratamento da amenorreia, há grandes variações, onde podemos citar alguns tipos de tratamentos como caráter meramente ilustrativo desse artigo, porém, a conduta correta de tratamento deverá ser realizada pelo profissional ginecologista, no qual estará adotando o tratamento mais específico e adequado para cada caso.
Casos de amenorreia têm diversas condutas de tratamento. É possível incluir um programa de exercícios e alimentação que permita o ganho de peso adequado ou o contrário em dietas para perda de peso, psicoterapia, no caso de estresse emocional, ou o uso de suplemento hormonal para equilibrar o ciclo reprodutivo. Se a causa do distúrbio for a presença de cistos ou tumores no ovário, útero ou na hipófise, o tratamento poderá ser cirúrgico.
Conclusões
Concluindo este artigo, podemos dizer que os exercícios físicos ou esportes, onde existe a demanda intensa e extenuante das atletas, podem levar a um estado que chamamos de overtraining, que se caracteriza por um intenso esgotamento físico e, muitas vezes, mental, causado pelo excesso de treinamento.
Esse excesso de treinamento no esporte poderá levar a mulher a um desequilíbrio hormonal que, por sua vez, acaba resultando em um estado de amenorreia, ou seja, ausência da menstruação que poderá se estender por dias, semanas ou até meses.
Outro fator já visto anteriormente, que também contribui para o estado de amenorreia, é o estresse psíquico que, muitas vezes, está ligado a compromissos, viagens e pressões sociais referentes ao esporte praticado.
Não podemos deixar de mencionar o uso de determinados medicamentos para aumento da performance física, principalmente hormônios esteroides anabolizantes que acabam resultando em sérias alterações hormonais na mulher, tendo como um de seus sintomas a ocorrência de amenorreia, principalmente de origem secundária (3 meses ou mais sem menstruação).
Para finalizar, é bom deixar claro que qualquer distúrbio hormonal que a mulher possa apresentar (estando relacionado ao esporte ou não) deve ser cuidadosamente acompanhado e tratado por um profissional especialista em ginecologia e obstetrícia, que saberá diagnosticar e tratar especificamente casos referentes à saúde feminina.
Comentários