PALAVRA DO ESPECIALISTA

Artigo: Medicina da obesidade e emagrecimento

Fisiologia do órgão adiposo (adipogênese humana): Como a gordura se armazena no organismo humano?

Artigo: Medicina da obesidade e emagrecimento Medicina da obesidade e emagrecimento
Crédito: BANCO DE IMAGENS

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgia da Face

Fisiologia Humana Geral e do Esporte

Doutor em Ciências Médicas (h.c)

Pesquisador em Medicina Metabólica Humana com foco no esporte e exercício

Instagram: @doutoredsonrosa

Facebook: Dr. Edson Rosa

 

Atualmente, devido ao estado atual da ciência, podemos destacar a palavra ‘obesidade’ como um conjunto de alterações orgânicas que vão muito além do fator estético.

É sabido que a obesidade humana cria uma série de repercussões bioquímicas crônicas (de comportamento lento) no organismo, abrindo as portas para o surgimento de diversas doenças, podendo acarretar em sérias repercussões à saúde do indivíduo. 

Neste artigo, iremos citar, de forma resumida, como a doença obesidade se instala num organismo humano, citando os principais mecanismos internos que originam os estoques de gordura corporal.

Sabemos que o tecido adiposo (gorduroso) é distribuído corporalmente em depósitos de tamanho variável, sendo as principais derivações:

 

- Pode ser derivado de uma camada denominada mesoderma, sendo que esse consiste em células e uma matriz extracelular. Entre as primeiras, contam-se os adipócitos (células de gordura), contendo elevado teor de lipídeos (gorduras).

 

- Pode ser também derivado de células estromovasculares, onde se enquandram vários componentes presentes, tais como: pré-adipócitos, fibroblastos, mastócitos, células endoteliais, pericitos, macrófagos, células reticulares e células-tronco, sendo que essas últimas estão presentes no tecido adiposo (gorduroso) obtido por lipoaspiração.

Cada adipócito é rodeado de um ou mais capilares (pequenos vasos sanguíneos), nesse caso, quando há hipertrofia (aumento de tamanho) dos adipócitos pré-existentes ou hiperplasia (aumento de células) a partir de células precursoras (adipogênese / formação de gordura corporal), é necessária a remodelação dos capilares pré-existentes na hipertrofia e neovascularização dos mesmos na hiperplasia. 

A formação de gordura corporal inicia-se pelo agrupamento de células gordurosas, células angiogênicas e células estromais com a presença de celulas de defesa do organismo, tais como os monócitos e macrófagos (células CD34+ e CD68+), estas últimas possivelmente recrutadas por uma proteína quimioatrativa de monócitos 1 (chamada de monocyte chemotactic protein 1, MCP-1), produzida nas células de gordura. Os três tipos celulares estão envolvidos no processo, sendo que todos estão produzindo o fator de crescimento do endotélio vascular (vascular endothelial growth factor, VEGF), responsável pelo aumento da circulação sanguínea local. Já os macrófagos, que são um tipo de célula de defesa do sistema imunológico, contribuem para a adipogênese (formação de gordura) com a produção de citocinas (toxinas) adicionais como, por exemplo, os fatores de necrose tumoral (tumor necrosis factor-alpha, TNFα) e insulinóide de crescimento 1 (insulin-like growth factor 1),IGF-1.

De acordo com as características e a localização dos adipócitos, é possível distinguir pelo menos três tipos principais de tecidos gordurosos corporais, tais como:

 

- Branco (white adipose tissue, WAT);

- Marrom (brown adipose tissue, BAT);

- Proveniente da Medula óssea (bone marrow adipose tissue, BMAT). 

 

Durante a infância do ser humano, os adipócitos marrons (BAT) estão concentrados em zonas topográficas distintas ao redor do corpo humano, porém, na vida adulta, estas zonas praticamente desaparecem e os adipócitos marrons (BAT), em minoria, acabam por permanecerem misturados com os adipócitos brancos (WAT). 

Podemos mensurar que quando o organismo humano absorve mais energia do que pode gastar de imediato, a energia em excesso é processada e armazenada no órgão adiposo para ser utilizada quando a necessidade energética ultrapassar o suprimento disponível de nutrientes. A energia é armazenada sob a forma de triacilglicerídeos ou triglicerídeos (TAGs) e liberada como ácidos graxos livres (free fatty acids, FFAs) e glicerol. Esta função possibilita ao organismo compartilhar a energia contida nos alimentos para a produção de calor e de adenosina-trifosfato (ATP) para abastecer a atividade celular, pois o calor e o ATP são as duas principais moedas correntes da economia energética do organismo humano.

 

O iniciador primário da quebra de lipídeos (moleculas de gordura) no tecido adiposo humano é o sistema nervoso simpático através do hormônio noradrenalina, que além da inervação efetora, também há uma inervação sensitiva cuja tarefa é informar o cérebro do grau de obesidade existente. 

Nesse caso, o hormônio noradrenalina estimula tanto a lipólise (quebra de gordura), como a termogênese (aumento da temperatura corporal), atuando em receptores transmembranares beta-adrenérgicos (B) que regulam um sistema de enzimas específicas (mensageiros secundários), nos quais executam as etapas intermediárias, sendo que praticamente todos os adipócitos expressam o receptor adrenérgico beta 3.

Podemos dizer que, além da função energética, o órgão adiposo (tecido gorduroso), tem quatro funções adicionais: 

 

1. Sustentação mecânica;

2. Modelagem corporal;

3. Isolante térmico, mecânico e elétrico;

4. Secreção de um conjunto de citocinas (células específicas) conhecidas como adipocinas (ADPCs). 

 

A produção de citocinas não é exclusiva dos adipócitos, mas caracteriza a sua participação na regulação do metabolismo energético em geral, pois essa regulação é feita através de efeitos autócrinos (na própria célula de origem), parácrinos (em células vizinhas) e endócrinos (na corrente sanguínea diretamente, portanto sistêmicos).

O tecido adiposo branco (WAT) armazena triacilglicerideos (TAGs) conhecidos como reservas de gordura corporal, liberando ácidos graxos livres e glicerol. 

Já o tecido adiposo marrom (BAT) gera calor e o tecido adiposo marrom originário da medula óssea (BMAT), tem a sua atividade metabólica relacionada à hematopoiese (formação de células sanguíenas) e osteoblastogênese (formação de células ósseas).

Digamos que todos esses tecidos adiposos produzem os adipócitos, que são células de gordura, servindo também para integrá-las às demais funções orgânicas. 

Como já mencionado acima, o sobrepeso e a obesidade somente se desenvolvem quando o aporte calórico (consumo calórico) excede o gasto, nesse caso, o ganho de peso corporal, pode ter um fundo genético e ser favorecido pelo ambiente, mas o comportamento do indivíduo em relação às técnicas de dieta e atividade física é o principal responsável pelo excesso de peso. Exceto em caso de retenção hídrica, o ganho de peso é o resultado do consumo de calorias extras, diminuição do gasto de calorias (sedentarismo) ou ambos.

Nós pesquisadores, sabemos que a obesidade humana, envolve dois eventos adversos: 

 

- Lipotoxicidade (efeito tóxico do aumento de células de gordura no organismo)

- Estado inflamatório crônico de baixo grau.

 

A lipotoxicidade seria devido à presença excessiva no organismo humano de ácidos graxos livres e triacilgliceróis (reserva de gordura corporal), podendo interferir nas ações periféricas do hormônio insulina, na função das células beta do pâncreas e nas células responsivas à insulina (miócitos, cardiomiócitos e hepatócitos), contribuindo para as instalações de quadros crônicos de diabetes mielitus tipo II, esteatose hepática (doenças do fígado), cardiomiopatias (doenças do coração), dentre outras.

Já o conceito de estado inflamatório crônico de baixo grau, deve-se ao aumento dos níveis circulantes de células denominadas de adipocinas (ADPCs), que é diretamente proporcional ao grau de obesidade. Este fato levou à formulação da hipótese de que na obesidade ocorre a desregulação pró-inflamatória das adipocinas e constitui a ligação patogênica (relacionada a doenças) entre obesidade, diabetes miellitus (DM2) e doenças cardiovasculares. Isso porque o aumento de adipocinas parece estar relacionado à maior concentração de macrófagos locais (células de defesa), sendo que a expansão do tecido gorduroso é alcançada através da hipertrofia ou hiperplasia adipocitária, levando ao aumento desproporcional das dimensões celulares, dificultando a distância a ser percorrida pelo oxigênio difundido, constituindo um ambiente hipóxico (baixa oxigenação) para os grandes adipócitos, que acaba por estimular a produção do fator vascular endotelial (VEGF), via fator hipóxia-induzido (HIF). Já o hormônio leptina, produzido pelos adipócitos, é uma citocina que promove uma resposta imune pró- inflamatória, sendo que sua expressão e liberação são proporcionais ao tamanho dos adipócitos, o que deve agravar o panorama inflamatório local. 

Por isso, sempre destaco que o tecido adiposo em excesso funciona como um verdadeiro órgão endócrino no organismo humano, liberando o tempo todo cronicamente, 24 horas por dia, citocinas inflamatórias, trazendo ao organismo humano, reações desfavoráveis ao equilibrio (homestase) e saúde, contribuindo para o surgimento das famosas doenças crônico-degenerativas, que se não tratadas, podem comprometer gravemente a saúde dos seres humanos portadores.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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