Dr. Edson Carlos Z. Rosa
Cirurgia da Face
Fisiologia Humana Geral e do Esporte
Doutor em Ciências Médicas (h.c)
Pesquisador em Medicina Metabólica Humana com foco no esporte e exercício
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Atualmente, observamos que a dieta humana vem sofrendo grandes transformações com o passar do tempo, pois a revolução industrial que estamos sofremos vem alterando significativamente a forma como os alimentos são produzidos e consumidos.
Uma das principais mudanças foi a composição dos alimentos quanto ao seu perfil de macro e micronutrientes, com a utilização de alimentos refinados e ricos em gorduras, somados a pouca variedade dos alimentos consumidos, a inserção e aumento do consumo dos alimentos de baixa qualidade molecular e alta densidade calórica estão envolvidos na patogênese de diversas doenças crônicas não-transmissíveis da sociedade ocidental atual.
O consumo de dietas de baixa qualidade, provenientes do consumo de alimentos básicos e pouco nutritivos pode contribuir para a ocorrência de quadros de carências nutricionais. Sendo assim, para que o organismo humano atue em perfeita harmonia, faz-se necessário que moléculas de vitaminas e minerais estejam presentes em quantidades ideais, uma vez que estes agem como importantes cofatores enzimáticos responsáveis pela síntese, liberação, ligações aos receptores e regulação de diversos hormônios, garantindo o perfeito funcionamento celular. Dessa forma, a ingestão insuficiente de micronutrientes pode colocar o organismo num estado de desequilíbrio funcional, comprometendo a homeostase corpórea (equilíbrio metabólico). Portanto, a Nutromedicina Hormonal consiste em abordar os pacientes com técnicas específicas, através da utilização de micronutrientes envolvidos na regulação hormonal do organismo.
Micronutrientes reguladores hormonais
Vitamina A (Retinol e B-Caroteno)
A vitamina A que consumimos vem de diferentes fontes: Pré-Vitamina A, derivada de produtos de origem animal; β-carotenos, carotenóides. Pró-Vitamina A, derivada de alimento de origem vegetal; Retinóides.
Os retinóides derivados da vitamina A são uma família de compostos necessários para o desenvolvimento de muitos tecidos, sendo que a maior parte dessas funções é realizada pelos seus metabólitos que, ao ligarem-se aos receptores nucleares, conseguem regular a expressão gênica. Os derivados da vitamina A e, em particular, sua forma biologicamente ativa, o ácido retinóico todo trans, têm sido associados à melhora na resistência insulínica e redução na produção de cortisol no músculo e tecido adiposo pela inibição da 11-beta-hidroxi-esteróide-desidrogenase 1 (11βHSD-1). Os efeitos dessa forma ativa também são benéficos para a prevenção de doenças cardiovasculares, uma vez que inibem o sistema renina-angiotensina, apresentando importante papel preventivo na hipertensão. Esse mecanismo se dá através da inibição da angiotensina II, pela regulação da expressão da enzima conversora de angiotensina (ECA) e redução de eventos mediados pela sinalização dos receptores de angiotensina II tipo I (AT1), responsáveis pela vasoconstrição endotelial.
Vitamina C (Ácido Ascórbico)
A vitamina C ou Ácido Ascórbico age como potente antioxidante hidrossolúvel, sendo também um agente redutor, uma vez que doa elétrons, sendo um potente inibidor de glicações proteicas, que estão envolvidas com estresse e dano oxidativo em biomoléculas celulares como lipídios, proteínas e DNA, contribuindo para a patogênese de doenças como diabetes, obesidade e outras doenças crônicas não-degenerativas.
Alguns estudos sugerem que proteínas como a insulina podem sofrer glicação, apresentando, consequentemente, atividade biológica reduzida, o que contribui para o desenvolvimento de distúrbios relacionados ao metabolismo insulinêmico. Nesse contexto, o uso de vitamina C torna-se um poderoso aliado, uma vez que, impedir a glicação da insulina, seja no pâncreas ou na corrente sanguínea, resultaria em um hormônio biologicamente mais ativo, melhorando parâmetros como sensibilidade à insulina, hiperglicemia e tolerância à glicose.
Vitamina D3 (Colecalciferol)
A concentração sérica de vitamina D é diretamente influenciada por fatores ambientais, como a ingestão diária e a exposição aos raios solares. Grandes partes dos tecidos humanos apresentam não só receptores para a vitamina D, como também enzimas hidroxilases que convertem a 25(OH)D (Calcidiol) em sua forma ativa, a 1,25(OH)D (Calcitriol). Dessa forma, a deficiência desta molécula influencia diversos tecidos, e não só aqueles envolvidos com a formação óssea e homeostase do cálcio. Vários estudos suportam a ideia de que tal vitamina está envolvida com a homeostase glicêmica, pois a interferência da vitamina D se dá de diversas formas, podendo-se citar a presença de receptores específicos de vitamina D (chamados VDR) e a expressão de enzimas hidroxilases nas células pancreáticas, capazes de converter a vitamina em sua forma ativa, a presença de elementos responsivos à vitamina em genes promotores de insulina e a presença de VDR no músculo esquelético. Ainda assim, a 1,25(OH)D ativa diretamente a transcrição de genes receptores de insulina, que ativam os receptores ativadores da proliferação peroxissomal (PPAR), estimulam a expressão de genes insulinêmicos e, em experimentos in vitro, aumentam o transporte de glicose mediado por insulina.
Vitamina E (Tocoferol)
A vitamina E, por ser um poderoso antioxidante e evitar a glicação de proteínas como a insulina, também está envolvida no melhor controle insulinêmico, pois o estresse oxidativo também está envolvido com o desenvolvimento de resistência à insulina, e terapias antioxidantes que controlem a produção de espécies reativas de oxigênio (EROS) parecem melhorar o controle glicêmico em pessoas com diabetes tipo 2.
Um estudo realizado com 80 indivíduos obesos demonstrou que a suplementação com Vitamina E por três meses melhora a glicemia de jejum e as concentrações de insulina. Tais efeitos se devem tanto ao controle do estresse oxidativo, quanto à melhora da função hepatocelular, com diminuição de enzimas hepáticas, apresentados por essa vitamina.
O fígado apresenta importante papel no metabolismo glicídico e insulinêmico, uma vez que é onde ocorrem o clearance de insulina e grande parte do metabolismo glicêmico, sendo que altas doses de vitamina E reduzem os níveis de enzimas hepáticas plasmáticas, relacionadas à resistência insulínica hepática e à liberação de glicose pelo fígado, que estão ligados à melhora da homeostase da glicose.
Vitamina K (Filoquinona)
A vitamina K é um cofator para formação de resíduos de y-carboxyglutamil em algumas proteínas, incluindo fatores de coagulação sanguínea e proteínas para formação óssea, como a osteocalcina. Estudos com ratos knock-out para osteocalcina sugerem que a mesma possa estar envolvida na sensibilidade e excreção de insulina. Dessa forma, alguns estudos denotam que a vitamina K possa estar envolvida na homeostase da glicose, embora o papel de tal vitamina ainda não esteja claramente definido. Um estudo transversal com 2.719 pessoas demonstrou que o maior consumo de vitamina K1 (filoquinona), encontrada em vegetais verdes escuros e alguns óleos vegetais, está associado à maior sensibilidade insulínica e à melhor homeostase glicêmica, tanto em homens, quanto em mulheres, apresentando também uma importante ação na regulação hormonal de esteroides como testosterona, progesterona, estrogênios, podendo também ser utilizada em casos de alterações moleculares nesse eixo hormonal.
Cromo (Cr)
O cromo é um mineral essencial que se encontra em pequenas quantidades no organismo humano, entretanto, essa pequena porção já atua na efetividade da insulina, na regulação da glicemia e de várias enzimas para produção de energia celular. A participação do cromo no metabolismo resume-se ao aumento da sensibilidade à insulina, através da ligação a uma proteína intracelular denominada apocromodulina, que se liga ao receptor insulínico de células de tecidos periféricos concomitantemente à insulina, porém em um sítio extracelular.
Tal ligação amplifica a cascata de sinais intracelulares responsáveis pelo estímulo da translocação de GLUT4, aumentando a captação de glicose e aminoácidos, assim sendo, se tratando do metabolismo glicídico, o cromo é essencial para a manutenção da glicose sanguínea, já que potencializa a ação da insulina.
Ferro (Fe)
A deficiência molecular de Ferro pode contribuir para o desenvolvimento de alterações metabólicas como a anemia, podendo ainda levar a efeitos adversos no metabolismo hormonal do eixo tireoidiano, uma vez que tal deficiência diminui as concentrações de hormônios T3 e T4, aumentando as concentrações séricas de TSH e, assim, promovendo menor ligação da tri-iodotironina (T3) a seus receptores hepáticos e menor atividade da tireoperoxidase, enzima crucial para a síntese dos hormônios tireoidianos.
Complexo B /Ácido Fólico (Folato)
Diversos estudos vêm sugerindo que a molécula de folato está associada com o desenvolvimento de quadros de depressão, uma vez que tal nutriente está envolvido em reações de metilação relacionadas à síntese de serotonina e outros neurotransmissores como as monoaminas e catecolaminas. A deficiência molecular de folato resulta também no acumulo de ácido metilmalônico e homocisteína, que podem agravar quadros de depressão. Podemos observar também que níveis aumentados de homocisteína estão relacionados ao aumento da atividade da enzima PECK (fosfoenolpiruvato carboxiquinase), podendo gerar quadros de resistência insulínica.
Iodo (I)
O mineral iodo é de fundamental importância para o equilíbrio hormonal do organismo humano, uma vez que serve como substrato para a produção dos hormônios tireoidianos tiroxina (T4)e tri-iodotironina (T3), contribuindo ainda para a iodação da tirosina.
Sua deficiência leva ao aumento da estimulação do TSH, aumentando a captação de iodo, levando ao rápido turnover e aumento de T3 em relação ao T4, além disso, a deficiência de iodo poderá contribuir para alguns eventos, como o aumento da mortalidade neonatal, bócio tireoidiano, cretinismo e retardo do desenvolvimento mental do feto, uma vez que o iodo é fundamental para a maturação do sistema nervoso central, principalmente para a sua mielinização.
Algumas deficiências moleculares de outros minerais como ferro, vitamina A, zinco e selênio, concomitantes à de iodo, também prejudicam o adequado funcionamento tireoidiano.
Magnésio (Mg)
O mineral Magnésio é o segundo cátion molecular intracelular mais abundante no corpo humano, ativando mais de 300 enzimas metabólicas, sendo um cofator importante em diversas reações enzimáticas do metabolismo glicídico, desempenhando um papel importante no sistema nervoso central, pois a diminuição das concentrações hormonais de cortisol e aldosterona após a suplementação com magnésio indica que o metabolismo molecular do mineral Mg, quando equilibrado, apresenta efeitos reguladores do estresse em humanos. Os íons do magnésio regulam o fluxo do cálcio nos canais neuronais de cálcio, ajudando a regular a produção de óxido nítrico, sendo que a deficiência de magnésio pode causar danos aos neurônios, podendo manifestar-se com quadros de depressão, sendo que o tratamento com magnésio parece ser efetivo no tratamento de depressões severas resultantes da deficiência de magnésio intraneuronal. Já em relação à insulina, estudos in vitro e in vivo demonstraram que ela pode modular o deslocamento de magnésio do espaço extracelular para o espaço intracelular e vice-versa, com o efeito metabólico do magnésio na regulação de secreção insulínica, já que baixas concentrações intracelulares de magnésio podem resultar em uma atividade anormal da tirosina quinase nos receptores de insulina. Ambos os eventos são responsáveis pelo prejuízo na ação do hormônio e na piora na resistência insulínica.
Em pacientes diabéticos, que geralmente apresentam deficiência de magnésio, a suplementação diária com tal mineral contribui para a melhora da captação de glicose mediada pela insulina.
Vanádio (V)
O Vanádio é um elemento molecular de transição que apresenta efeito mimético (similar) ao da insulina, aumentando a sensibilidade insulínica e diminuindo os níveis de insulina e glicose plasmáticas. Os mecanismos pelos quais tais eventos acontecem se dão através da participação ativa do vanádio na sinalização intracelular de insulina, já que inibe a tirosina fosfatase, aumenta a atividade da tirosina quinase, potencializando sua sinalização intracelular, aumentando a fosforilação da tirosina dos substratos dos receptores de insulina e facilita a translocação do GLUT-4 para a membrana celular por aumentar a atividade da PI3K3. A suplementação com vanádio ainda diminui a expressão do Neuro-hormônio orexígeno chamado de Neuropeptídeo Y (NPY), diminuindo o consumo alimentar, favorecendo a lipólise e consequente emagrecimento.
Zinco (Zn)
O zinco é um cofator enzimático em mais de 200 metaloproteínas e mais de 50 enzimas, exercendo um papel catalítico, estrutural e regulador de metaloenzimas.
Este micronutriente também está envolvido na fisiologia de diversos hormônios, tais como insulina, testosterona, tiroxina (T4) e tri-iodotironina (T3), existindo uma estreita relação estrutural e funcional entre eles. Assim, a suplementação com zinco parece acelerar e aumentar a magnitude da ligação dos hormônios aos seus receptores, sendo que a deficiência de zinco pode culminar no desenvolvimento de resistência à insulina, sendo o zinco um composto molecular regulador da atividade hormonal de insulina. Outra atribuição bioquímica de muita valia a esse composto é o forte potencial que o mesmo possui em inibir a formação de espécies reativas de Oxigênio (EROs) ou radicais livres, estimulando a ação metabólica da enzima Superóxido Dismutase (SOD), que possui atividade antioxidante e cuja produção se mostra dependente de zinco. Nesse caso, altas concentrações de Superóxido Dismutase (SOD) poderiam proteger o organismo dos danos causados pelos radicais livres, pois o Zinco também participa do aumento de expressão da metalotioneína, que apresenta enorme potencial na “limpeza” de radicais livres, é induzida por esse micronutriente. O zinco atua, ainda, em desordens que envolvem neurotransmissores como serotonina e dopamina, como o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), uma vez que o zinco é fundamental para a produção e modulação da melatonina, um hormônio que ajuda a regular a função da dopamina.
Considerações Finais
Como visto neste artigo, os nutrientes contidos molecularmente nos alimentos possuem grande potencial de interação metabólica na produção ou inibição hormonal, sendo que a alimentação humana tem como primordial função, a manutenção do perfeito equilíbrio bioquímico corpóreo, possuindo uma íntima e estreita relação entre micronutrientes e hormônios. Assim, todos os micronutrientes devem estar em quantidades adequadas, uma vez que tanto a deficiência quanto o excesso podem trazer prejuízos à regulação hormonal. Por outro lado, a ingestão insuficiente de micronutrientes pode colocar o organismo num estado de desequilíbrio funcional, comprometendo a homeostase corpórea (equilíbrio metabólico).
Referências Bibliográficas
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