Artigo - Nutrologia Molecular do Esporte

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgia da Face

Fisiologia Humana Geral e do Esporte

Doutor em Ciências Médicas (h.c)

Pesquisador em Medicina Metabólica Humana com foco no esporte e exercício

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Inicio este artigo, fazendo um breve relato sobre o uso da suplementação pré-treino e seus mecanismos de ação pelo organismo humano. Sabemos que, atualmente, os suplementos pré-treino viraram a febre do momento entre os praticantes de atividades esportivas, especialmente os praticantes de exercícios resistidos de musculação. 

Parece até que virou uma modinha nas academias, de que todos devem tomar uma suplementação pré-treino para conseguir ganhar massa muscular, definição, aumento da performance e condicionamento físico, enfim conseguir atingir seus objetivos estéticos e funcionais ou simplesmente conseguir executar uma sessão de treinamento depois de um dia cansativo de trabalho.

Em virtude desses fatores, me vem sempre uma dúvida, será que realmente todos esses consumidores de suplementos pré-treino sabem exatamente o que estão ingerindo?

Será que todos os usuários, de suplementos pré-treino, sentem aumentos significativos na massa muscular, na composição corporal, nas medidas antropometricamente aferidas ou no peso?

Ou será que usam esses produtos porque gostam da sensação que os mesmos causam no corpo e na mente?

Com base em todas essas dúvidas geradas e também em todo o mistério do real efeito dos suplementos pré-treino, vamos desmistificar item por item do mesmo, desde cada substância contida na maioria desses suplementos, bem como o efeito bioquímico/fisiológico de cada substância em nosso corpo.

Dentre os diversos efeitos clínicos ocorridos na maioria dos suplementos pré-treino, podemos destacar:

Aumento da dilatação arterial periférica ou vasodilatação

A esse efeito, destacamos a substancia L-Arginina, que em doses mais altas, promovem o aumento de uma molécula desencadeada pelo exercício físico, denominada Óxido Nítrico (NO), onde o mesmo irá influenciar no aumento de GMPc e conseqüente inibição de endotelina (agente vaso-constritor arterial), gerando o relaxamento do endotélio vascular e assim sendo, promovendo a vasodilatação.

Aumento da resistência muscular e performance

Nesse item podemos dar destaque para diversas substâncias envolvidas que acabam atuando de forma sinérgica, ou seja, em conjunto umas com as outras. 

Vou dividir esse tópico em 2 partes para melhor compreensão, sendo a parte 1 substâncias com ação energética e parte 2 substâncias com ação estimulante do sistema nervoso central-SNC. Aqui vou detalhar cada uma dessas substâncias:

Substâncias com ação energética

1. Beta-alanina
2. Creatina
3. Betaína anidra
4. Bicarbonato de Sódio
5. Possíveis carboidratos presentes na fórmula como: Maltodextrina, Waxymaize
6. Complexos protéicos
7. Complexos lipídicos

Substâncias com ação estimulante central

1. Cafeína
2. Efedrina
3. 1,3 Dimethilamilamina (DMMA)
4. Schizandrol A
5. Citrus Aurantium
6. Capsaicina
7. Alfa Glicerofosfacolina
8. Feniletilamina
9. Dimetilaminoetanol DMAE

Considerações sobre o mecanismo de ação das substâncias estimulantes do SNC

Como já mencionado em todo este artigo, os suplementos pré-treino apresentam substâncias classificadas como estimulantes do SNC.
Essas substâncias, por sua vez, possuem mecanismos de ação bastante abrangentes no sistema nervoso central  e no sistema cardiovascular, apresentando riscos aos usuários que disponham de quaisquer alterações nesses órgãos.
A atenção se concentra focadamente na dosagem diária estabelecida, pois as substâncias adrenérgicas apresentam um alto grau de tolerância bioquímica ao uso.
Para ser mais claro, isso quer dizer que o organismo tende a se habituar com a dose usada do suplemento, depois do decorrer de um tempo, passando a não manifestar mais os sintomas e efeitos desejados.

A esse fato, damos o nome de tolerância bioquímica e ocorre através da dessensibilização descendente ou down regulation dos receptores celulares, fazendo com que os mesmos, após se ligarem aos substratos continuamente e receberem sempre os mesmos sinais de ativação, passem a se interiorizar para dentro do citosol da célula, deixando de se ligarem aos substratos e, dessa forma, o organismo passa a não responder adequadamente ao estímulo bioquímico da droga.

Nesse caso, nos deparamos diante de uma situação perigosa, onde vemos constantemente pacientes relatarem que tiveram que duplicar ou triplicar o número de doses do suplemento pré-reino para poderem sentir os estímulos de disposição, força, performance.

Não podemos esquecer que doses altas de substâncias estimulantes adrenérgicas podem causar alterações neurológicas graves como insônias, estados de ansiedades, estados de pânico, bem como alterações cardíacas severas, podendo ser fatais, como insuficiência cardíaca, infarto agudo do miocárdio (IAM), paradas cardiorrespiratórias (PCR), hipertensões artérias sistêmicas graves (HAS).

A dica de uso desses suplementos para vencermos a dessensibilização cito-receptora (down regulation) ou tolerância do produto, seria utilizarmos o mesmo em períodos de ciclos, como, por exemplo, usamos 2 de um pré-treino, em seguida deixamos de usar por mais 2 , novamente voltamos a usá-lo.

Essa seria uma forma de uso, já que o período de ausência do uso do suplemento, faria com que os receptores dessensibilizados voltassem a se sensibilizar ao produto, tendo um retorno dos efeitos esperados.

Outra forma seria usar ciclos contendo 2 suplementos pré-treino com fórmulas diferentes, nesse caso a cada 2 semanas poderia alternar os suplementos, causando uma menor dessensibilização receptora.

Considerações finais

Ao desmistificarmos a formulação da maioria das substâncias contidas nos suplementos pré-treino, passamos a perceber que existem alguns componentes que devem ser usados com precauções.

Realmente, vemos que determinadas substâncias têm forte ação estimulante central (SNC), desse modo devem ser evitadas por pacientes com distúrbios cardíacos e/ ou respiratórios ou até mesmo pacientes suscetíveis a quadros ansiogênicos (pacientes com ansiedade).

Mesmo que determinados indivíduos não tenham nenhuma patologia, esses mesmos poderão ser sensíveis a fórmula em dosagens relativamente baixas, desenvolvendo alguns efeitos colaterais.

Aconselho sempre iniciar o uso desses suplementos em indivíduos saudáveis com doses mais baixas que as recomendadas para testarmos a hipersensibilidade receptora do organismo á substância, onde posteriormente, não havendo nenhuma reação adversa, podemos ir aumentando gradativamente até atingir a dose recomendada pelo fabricante.

Em caso de qualquer dúvida sobre o estado de saúde atual e uso de suplementos alimentares, aconselho sempre a procurar um profissional capacitado para realização de exames médicos adequados e orientação especializada.