PALAVRA DO ESPECIALISTA

Artigo: Farmacologia Aplicada à fisiologia Endócrina e Emagrecimento

O uso de medicamentos análogos de GLP-1 como terapia para o emagrecimento

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Crédito: BANCO DE IMAGENS

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgia da Face

Fisiologia Humana Geral e do Esporte

Doutor em Ciências Médicas (h.c)

Pesquisador em Medicina Metabólica Humana com foco no esporte e exercício

Instagram: @doutoredsonrosa

Facebook: Dr. Edson Rosa

 

Iniciamos este artigo esclarecendo que inúmeros medicamentos análogos de GLP-1 são aprovados pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos e agora mais recentemente também pela Anvisa do Brasil, para o tratamento de sobrepeso ou obesidade, associados em conjunto com alimentação saudável, atividade física e modificação de comportamento. A decisão de iniciar a terapia medicamentosa em indivíduos com sobrepeso deve ser tomada após a consideração dos riscos e benefícios, e os objetivos da terapia medicamentosa devem ser claros. O objetivo de qualquer terapia medicamentosa para indivíduos com sobrepeso é a redução de peso em longo prazo e a melhoria da saúde geral, pois se o objetivo é melhorar a saúde, o sucesso pode ser medido pelo grau de perda de peso e melhora mensurável ou percebida na função física, nas comorbidades e principalmente na sensação de bem-estar.

Podemos dizer que a melhora do estado de saúde após a perda de peso é um critério importante na determinação de continuar a terapia medicamentosa ou não, pois os benefícios potenciais da perda de peso devem ser considerados à luz dos riscos potenciais da terapia com medicamentos.

Nessa linha de raciocino, levando em consideração que a obesidade é uma doença multifatorial e que seu tratamento requer uma conduta profissional bastante apurada e centrada no paciente, temos como uma das opções terapêuticas farmacológicas ao tratamento antidiabetogênico e antiobesidade, os medicamentos peptídeos de incretina (agonistas de GLP-1) semelhantes ao hormônio glucagon, tais como a liraglutida, dulaglutida, semaglutida etc.

 

Medicamentos semelhantes ao Glucagon - GLP-1  e seus mecanismos de ação no organismo

 

Os peptídeos de incretina (peptídeo-1 semelhante ao glucagon [GLP-1] e polipeptídeo insulinotrópico dependente de glicose, também chamado de polipeptídeo inibitório gástrico [GIP]) são peptídeos gastrointestinais que estimulam a secreção de insulina dependente de glicose. A família de peptídeos derivados do glucagon consiste de três peptídeos altamente relacionados à uma família maior de hormônios e neuropeptídeos, que incluem glucagon, secretina, GIP (gastric inhibitory polypeptide), PACAP (pituitary adenylate cyclase-activating polypeptide), e VIP (vasoactive intestinal peptide), e os peptídeos semelhantes ao glucagon, ou glucagon-like, GLP-1 e GLP-2 Embora a atividade biológica do glucagon como hormônio contrarregulatório tenha sido descrita há mais de nove décadas, alguns papéis do GLP-1 foram elucidados apenas em estudos recentes: entre eles sua atividade antidiabética e, no caso do GLP-2, sua função estimuladora do crescimento do intestino. Diferentemente do glucagon, que é secretado no pâncreas, os peptídeos semelhantes ao glucagon, GLPs são sintetizados no intestino em células epiteliais de função enteroendócrina, chamadas células L, onde são sujeitos à influência de nutrientes luminais e sinais neuroendócrinos.

O peptídeo glucagon-like 1-(7-36)-amide (GLP-1) é um hormônio com potente ação hipoglicemiante, possuindo um espectro de atividades que se opõem aos sintomas da diabetes. O GLP-1 se liga aos receptores de proteína G com alta afinidade (GPCRs) localizada nas células pancreáticas beta, e exerce ação insulinotrópica que inclui estimulação da transcrição do gene da insulina, biosíntese e secreção da insulina. Algumas ações benéficas, como fator de crescimento, também foram descritas, como o estímulo à formação de novas ilhotas pancreáticas e retardamento do processo de apoptose de células beta.

O GLP-1 também inibe a liberação de glucagon e o esvaziamento gástrico, uma vez que os agonistas do receptor de GLP-1 ligam-se ao receptor de GLP-1 e estimulam a liberação de insulina dependente de glicose das ilhotas pancreáticas. A liraglutida é uma versão quimicamente modificada do GLP-1 humano, está disponível nos Estados Unidos e na Europa em uma dose mais elevada, 3 mg por dia, do que a usada no diabetes para o tratamento da obesidade em adultos com índice de massa corporal ≥30 kg/m2 ou ≥27 kg/m2 com pelo menos uma morbidade relacionada ao peso, como hipertensão, diabetes tipo 2 e dislipidemia (alterações nos marcadores de colesterol). 

Como dito anteriormente, existem vários tipos de medicamentos análogos de GLP-1, dentre eles a Liraglutida, Dulaglutida e Semaglutida.

 

Liraglutida (Medicamento análogo de GLP-1)

 

A Liraglutida, mais conhecida sob os nomes de Victoza e posteriormente de Saxenda, foi lançada no mercado brasileiro tendo sido aprovada para tratamento do diabetes e posteriormente usada de forma off label para o tratamento da obesidade.

Trata-se de um medicamento que tem como posologia o uso diário em forma de aplicações subcutâneas, tendo como efeitos colaterais comuns: diarreia, dor abdominal, fezes gordurosas e oleosas, excesso de gases, urgência para evacuar ou aumento do número de evacuações.

Entre os pacientes com sobrepeso ou obesidade e diabetes, a liraglutida é uma opção bastante usada. A liraglutida é contraindicada durante a gravidez e em pacientes com história pessoal de pancreatite ou história pessoal ou familiar de câncer medular da tireoide ou neoplasia endócrina múltipla 2A ou 2B. 

 

Semaglutida (Medicamento análogo de GLP-1)

 

A semaglutida, também conhecida sob o nome de Ozempic, é um agonista do receptor de GLP-1, assim como a Liraglutida, porém de longa ação e duração, podendo ser administrado como uma dose subcutânea uma vez por semana ou uma dose oral uma vez ao dia, diferentemente da Liraglutida que deve ser usada diariamente.

O Ozempic é um medicamento que foi lançado recentemente e em 2023 foi aprovado pela ANVISA como uma opção ao tratamento da obesidade.

A semaglutida, principio ativo do Ozempic, se mostrou eficaz no tratamento do diabetes e na redução dos principais eventos da doença cardiovascular em adultos, com diabetes tipo 2. Os resultados cardiovasculares com a semaglutida estão sendo investigados em pessoas com obesidade que não têm diabetes, tal como acontece com outros agonistas do receptor de GLP-1, os efeitos adversos são comuns, sendo os mesmos ocorridos com o uso da Liraglutida. 

 

Considerações finais

 

Os pacientes com sobrepeso devem receber aconselhamento sobre dieta, estilo de vida e metas para perda de peso, sendo que os pacientes com comorbidades específicas deverão passar por uma abordagem centrada no peso para o gerenciamento de doenças crônicas, tentando, se possível, selecionar os medicamentos para tratar a comorbidade que pode causar perda de peso, em vez de ganho de peso. Os candidatos à terapia medicamentosa incluem aqueles indivíduos com IMC ≥30 kg/m 2, ou IMC de 27 a 29,9 kg/m 2 com comorbidades que não atingiram as metas de perda de peso com uma intervenção abrangente no estilo de vida. A decisão de iniciar a terapia medicamentosa deve ser individualizada e tomada somente após avaliação de riscos e benefícios. 

Já os pacientes com sobrepeso ou obesidade nos quais a terapia farmacológica é indicada para redução de peso adicional, o uso de agonista do receptor GLP-1 como a Semaglutida (Ozempic) e a Liraglutida (Victoza ou Saxenda).

A semaglutida subcutânea uma vez por semana induz a perda de peso em indivíduos com sobrepeso e obesidade, com ou sem diabetes, apesar dos estudos demonstrarem eficácia na redução de peso, bem como melhora na glicemia e nos lipidograma. No entanto, a recomendação na prescrição desses medicamentos, com o objetivo de promover somente o emagrecimento em pacientes, deve ser criteriosamente analisada, uma vez que a obesidade é uma doença multifatorial e deve ser avaliada em todos os seus aspectos, partindo primariamente pelas técnicas de base com mudança nos hábitos de vida tais como: alimentação, prática de atividades físicas constantes, controle do estresse e equilíbrio mente-corpo, como prioridades iniciais frente à qualquer medida farmacológica, pois essa última deverá ser sempre coadjuvante.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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