PALAVRA DO ESPECIALISTA

Artigo - Fisiologia endóccrina na prática clínica: Hormônios da tireóide e metabolismo humano

O estudo da Fisiologia Endócrina nos revela um complexo mundo bioquímico, aonde os mensageiros químicos ditos hormônios, desempenham um papel fundamental no equilíbrio do metabólico do organismo.

Artigo - Fisiologia endóccrina na prática clínica: Hormônios da tireóide e metabolismo humano Fisiologia Endócrina e Hormônios da Tireóide
Crédito: Banco de imagens

Os hormônios tireoidianos são responsáveis diretos por diversas funções no metabolismo humano, tendo uma íntima relação com o desempenho físico nos esportes, pois a maior parte das estruturas corporais e tecidos, têm receptores para os hormônios tireoidianos e, desta forma, a tireóide é uma glândula capaz de interferir no metabolismo das células de quase todos os órgãos.

Anatomicamente, a tireóide é uma glândula em forma de borboleta (com dois lobos), que fica localizada no segmento anterior do pescoço, logo abaixo da região das cordas vocais, sendo uma das maiores glândulas do corpo humano, pesando aproximadamente de 15 a 25 gramas (no adulto). Possuem em seu interior, diversas estruturas, sendo as principais secretoras de hormônios, os folículos tireoidianos, que produzem os hormônios T3 e T4.

O folículo tireoidiano é constituído pelas células principais ou foliculares e pela célula C ou parafoliculares, decretando também a tireoglobulina, que é uma glicoproteína produzida para armazenar T3 e T4 dentro do folículo. Já a célula C, secreta calcitonina, que não é hormônio tireoidiano, embora seja produzida pela tireóide.

Mergulhando rapidamente na bioquímica endócrina, o mecanismo de produção hormonal de T3 e T4, se dá pelas células foliculares, onde capta iodeto e então, dentro da célula, ele sofre a ação da enzima peroxidase e transforma-se em iodo (Íon). A partir de então, se associa a tirosina (que tem forma de anel benzênico) e forma a 3–monoiodotirosina (MIT). Quando mais uma molécula de iodo se liga, agora no carbono 5, temos a 3,5-diiodotirosina (DIT).

MIT e DIT interagem e formam os hormônios tireoidianos da seguinte forma:

• MIT + DIT → T3 (triiodotirosina)

• DIT  + DIT →  T4 (tetraiodotironina)

T3 e T4 são armazenados no folículo sob a forma de tireoglobulina.  No sangue, T3 e T4 são transportados por TBG (globulina que se liga à tiroxina) e por TBPA (pré-albumina que se liga à tiroxina). O transportador se liga prefencialmente à T4 e o T3 circula, principalmente, livre.

A facilidade maior de ligação com receptor ocorre com T3 pois ele está livre no plasma. T4 deve antes, se desligar do transportador e depois ligar-se ao receptor (tal processo é mais difícil).

Aqui a necessidade de uso de T3 para complementar a ação do T4 em casos de disfunções da tireoide, como por exemplo, nos casos clínicos de pacientes portadores de hipertireoidismo. 

A conversão periférica de T4 em T3 ocorre principalmente nos rins por ação da enzima 5’ monodesiodase, mas também pode ocorrer no fígado, através 3’ monodesiodase, formando T3 reverso cuja função biológica é desconhecida.

A regulação da secreção hormonal se faz por feedback negativo de alça longa por T3 e T4 sobre a adenohipófise e o hipotálamo. Quando a concentração destes hormônios está elevada, inibe-se a produção de TRH pelo hipotálamo e de TSH pela adenohipófise, levando a célula folicular da tireóide a reduzir tanto a captação de iodo como a liberação de vesículas de tireoglobulina. Com isso ocorre uma diminuição da produção de secreção de T3 e de T4.

Se o paciente não ingere alimentos ricos em iodo, pode ocorrer do TSH aumentar a captação de iodo, porém não há formação de T3 e T4 suficiente, não havendo feed-back negativo, provocando assim, permanente estímulo da glândula, o que nos mostra clinicamente em exames sanguíneos, elevadas quantidades de TSH, podendo levar a situação de bócio  endêmico, que é hipertrofia da glândula tireóide.

Outro mecanismo que estimula a secreção do hormônio, agora através do estímulo da secreção de TRH pelo hipotálamo, é a noradrenalina e colesterolemia, por isso sempre devemos ficar atentos a produção em excesso de colesterol.

Em relação ao merabolismo esportivo, diversos são os íntimos mecanismos de ação dos hormônios da tireoide (T3 e T4), dentre eles:

➡️ Aumento do consumo de oxigênio  (EPOC), portanto, aumento da taxa metabólica, elevando a beta oxidação mitocondrial (queima de gordura), por estímulo à via sinalizadora celular AMPK.

➡️ Aumento da excreção de colesterol, causando a diminuição da colesterolemia, ou seja, diminuindo os níveis sanguíneos de colesterol.

➡️ Aumento da absorção de glicose com potencialização da ação da insulina, efeito anabólico por provável estímulo às vias sinalizadoras AKT- MTOR.

➡️ Aumento da força de contração do coração e da freqüência cardíaca (inotropismo e cronotropismo positivos), gerando aumento do volume sistólico, e aumento do peristaltismo.

➡️ Estímulo da lipólise e da secreção de GH, dentre outros.

CONSIDERAÇÕES FINAIS:

É importante lembrar que o uso dos hormônios T3 e T4 para fins esportivos, deve ser criteriosamente avaliado por um profissional especialista com experiência na área, pois um eventual mau uso dos mesmos, poderá acarretar em desequilíbrio do eixo neuro-hormonal hipotalâmico-hipofisário-tireoidiano (HHT), podendo levar a inibição da secreção e conseqüente deficiência hormonal da glândula tireóide de forma permanente.

 

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

Comentários