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Artigo - Nutrição em medicina do esporte: Beta Alanina - Mecanismos de ação e efeitos sistêmicos no organismo

A beta alanina consiste num aminoácido não essencial, ou seja secretado bioquimicamente através de reações enzimáticas em nosso organismo, podendo também ser encontrado em alguns alimentos proteicos como frango, carne bovina e peixes.

 

Artigo - Nutrição em medicina do esporte: Beta Alanina - Mecanismos de ação e efeitos sistêmicos no organismo Crédito: Banco de imagens

É bom deixarmos claro que a β-alanina não é usada na biossíntese de qualquer proteína ou enzima importante, pois uma vez que é ingerida e cai na corrente sanguínea, a mesma participa como substancia conformadora de outro aminoácido denominado carnosina.

Desse modo, a β-alanina é o precursor limitante de taxa da carnosina, o que significa dizer que os níveis de carnosina estão limitadas pela quantidade de β-alanina disponível, sendo a mesma sintetizada em carnosina pela ação da enzima carnosina sintetase, onde após sua conversão, a carnosina é encontrada principalmente em fibras musculares do tipo II.

As fibras musculares do tipo Ii, são fibras de "rápida contração" e são importantes para esportes explosivos, como corrida, ciclismo e treinamento resistido de alta intensidade por exemplo.

MECANISMOS DE AÇÃO FISIOLÓGICOS DA BETA ALANINA NO ORGANISMO HUMANO

A beta-alanina é um aminoácido não essencial, produzido endogenamente no fígado, sendo precursora essencial na produção de carnosina, um dipeptídeo formado por meio de beta-alanina e L-histidina com auxílio da enzima carnosina sintase na intramusculatura esquelética. Atualmente discute-se muito a utilização da beta-alanina como recurso ergogênico.

Foi identificada pela primeira vez pelo bioquímico russo Vladimir Gulevich, em 1900, é precursor indispensável na produção de carnosina, um dipeptídeo formado pela junção da beta-alanina com L-histidina por meio da enzima carnosina sin-tase na musculatura esquelética. A produção coincide com a via de degradação da uracila no fígado, tendo como produto final o gás carbônico (CO2). Apenas uma pequena fração da beta-alanina é perdida nessa via, logo a principal função dessa via é gerar beta-alanina e não degradar CO2.

A eficácia da beta-alanina é percebida em exercícios físicos de alta intensidade, atuando no tamponamento intramuscular de íons H+, postergando a fadiga. A parestesia (formigamento) em regiões do corpo é o efeito colateral mais comumente reportado, e a administração da beta-alanina em doses fracionadas ao longo do dia ou por meio de cápsulas de lenta absorção é capaz de minimizar este efeito. Com relação à dosagem, estudos descrevem que 3 a 6g/dia durante 4 a 10 semanas parecem ser o ideal para o efeito ergogênico desta substância.

O aumento da concentração de carnosina no músculo é importante para atletas e praticantes de atividades intensas, porque a mesma aumenta a capacidade de proteção (tamponamento ácido-base) do íon de hidrogênio intramuscular (H+). A produção de H+ ocorre devido ao aumento da produção de ácido lático , proveniente do metabolismo energético muscular, onde o mesmo irá gerar a fadiga muscular dolorosa, sendo nesse caso a carnosina de extrema importância no combate a fadiga muscular e atuando em conjunto com o bicarbonato produzido pelo fígado também com funções de diminuição ácida local.

Quando ingerida na forma de suplemento, a beta-alanina é absorvida tanto no jejuno quanto no íleo - em taxas semelhantes, e transportada diretamente para a circulação através dos enterócitos. Existem três proteínas que realizam esse transporte: taurine transporter (TauT), Sodium and chloride dependent neutral and basic amino acid transporter – B (0+) ou SLC6A14, e Proton-assisted amino acid transporter (PAT1 ou SLC36A1). O transportador B(0+) parece ser o mais importante, podendo realizar co-transporte de beta-alanina, cloro (Cl-) e sódio (Na+). Um substrato comum a esse transportador é a Taurina, sugerindo, então, que pode haver competição entre taurina e beta-alanina, se ingeridas concomitantemente. Logo, sugere-se evitar o consumo de taurina para impedir essa competição e, consequentemente, o declínio da absorção de beta-alanina, sendo que na musculatura esquelética, os transportadores PAT1 e TauT são capazes de transportar a beta-alanina para o meio intramuscular, favorecendo a síntese de carnosina e promovendo o tamponamento local.

Com isso, podemos mencionar que a carnosina mantém baixos os níveis de acidez nos músculos, permitindo um treinamento mais pesado e longo, ou seja temos aquela sensação de poder aumentar uma ou duas repetições a mais na série executada. Outro fato de relevância a ser mencionado é que a carnosina quando estimulada em sua produção, pode gerar como sintomas em determinados indivíduos a neuroparestesia temporária, que é aquela famosa sensação de formigamento que pode ser sentida na região dos braços, lábios, dedos, regiões da face, etc. Essa sensação é muitas vezes confundida pelos usuários como possível poder estimulatório do suplemento, ou seja quanto mais formigar o corpo mais potente é a substancia e consequentemente mais efeito terá.

É bom deixar claro que isso não passa de um mito, uma vez que a substância que gera o formigamento ou parestesia é a beta alanina e não a cafeína ou a arginina, esse sintoma ocorre devido a ligação da beta alanina a neurônios sensoriais na pele.

Porém, a questão de se sentir o sintoma de formigamento é muito pessoal e dependente da individualidade biológica de cada individuo, porém esses sintomas são temporários e não costumam durar mais que alguns minutos após sua ingestão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos ressaltar que para efeito ergogênico, a suplementação com Beta-Alanina é altamente recomendável, devido a sua participação essencial na síntese da carnosina, substância que promove o tamponamento intra-muscular neutralizando os íons H+, responsáveis por dor e fadiga, podendo a mesma ainda participar endogenamente como um substrato para a síntese de óxido nítrico, tendo também propriedades vasodilatadoras, nesse a maioria dos estudos indica como dose recomendada de beta alanina como tamponamento ácido muscular varia em torno de 3 a 6g por dia por um período de 4 a 10 semanas.

Para finalizar esse artigo, ressaltamos que o evento de parestesia (formigamanto) induzido pelo uso da Beta Alanina, é o efeito colateral freqüente e comumente relatado, no entanto, como estratégia para se evitar esse efeito muitas vezes incomodo, deve-se administrar a beta-alanina em doses fracionadas ao longo do dia ou por meio de cápsulas de lenta absorção.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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