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Janelas para o cérebro: alterações nos olhos e na visão podem indicar emergências neurológicas

Neurocirurgião Dr. Feres Chaddad explica a importância de se avaliar alterações oftalmológicas súbitas, especialmente quando associadas a achados de ordem neurológica.

Janelas para o cérebro: alterações nos olhos e na visão podem indicar emergências neurológicas Crédito: Banco de imagens

O avanço das tecnologias médicas, especialmente na área de pesquisa e avaliação, tem tornado cada vez mais comum o diagnóstico incidental de aneurismas cerebrais. Um acometimento neurológico que, segundo dados estatísticos dos Estados Unidos, afeta de 3 a 5% da população, com idade entre 30 e 60 anos, sendo mais prevalente em mulheres do que em homens. 

A manifestação clínica mais temida e conhecida dos aneurismas cerebrais é o seu rompimento, representado, quase sempre, por dor de cabeça súbita e intensa. Náuseas, vômitos e sonolência também podem estar associados. Dr. Feres Chaddad, Professor e Chefe da Disciplina de Neurocirurgia da UNIFESP, Chefe da Neurocirurgia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, ainda explica que, a depender da localização e do tamanho, os aneurismas não rotos (não rompidos) podem apresentar outros tipos de sintomas, como os oftalmológicos, que incluei dor retro-orbital (dor ao redor dos olhos), diplopia (visão dupla), alteração de acuidade visual (visão embaçada), perda de campo visual, e até síndromes endocrinológicas. 

"Os aneurismas cerebrais ficam localizados nas cisternas cerebrais, que são espaços próximos a vários nervos, dentre os quais: o nervo óptico (da visão), nervo oculomotor, nervo abducente e nervo troclear (estes três envolvidos na movimentação do globo ocular). Por isso, dependendo da localização, do tamanho, da projeção e grau de contato da lesão vascular com os nervos da região, podemos encontrar manifestações clínicas por efeito de massa/compressão de aneurismas não rotos", comenta Feres.

Alterações oftalmológicas: quando procurar um neurologista?

De acordo com o artigo "A Window to the Brain: Neuro-Ophthalmology for the Primary Care Practitioner", publicado no Nacional Library of Medicine, sintomas visuais que incluem perda de visual monocular aguda, papiledema (inchaço no nervo óptico), déficits de campo visual, anisocoria (pupilas em diferentes tamanhos), limitações dos movimentos oculares e nistagmo (movimentos involuntários e repetitivos dos olhos), podem caracterizar a apresentação de uma ampla gama de doenças neurológicas importantes. Por essa razão, a procura pelo especialista deve ser feita o quanto antes.  

Outro estudo que reforça essa premissa é o artigo "Neuro-Ophthalmological Emergencies", também publicado no Nacional Library of Medicine. Conforme o documento, emergências neuro-oftalmológicas podem representar condições de risco para sequela ou fatalidade se o diagnóstico e o tratamento não forem realizados prontamente. 

"Por exemplo, doenças que afetam o seio cavernoso e o ápice orbital (região na qual estão contidas estruturas ósseas, vasculares e neurais) podem causar perda simultânea de visão e diplopia. Caso não tratadas, essas lesões podem estender-se ao parênquima cerebral, provocando sequelas neurológicas permanentes", salienta Chaddad.  

Diagnóstico

Em linhas gerais, alterações de visão nem sempre são de causa oftalmológica (primária). Podem ser secundárias, surgindo de outros sistemas, como por exemplo, o neurológico, onde qualquer acometimento que envolve o nervo óptico, quiasma óptico, tratos ópticos, radiações ópticas, córtex visual e centros responsáveis pela movimentação ocular, pode levar a transfigurações visuais. Geralmente, o histórico do paciente ou o exame físico revelam pistas que direcionam ao diagnóstico.

"Após recebermos pacientes com queixa de cefaleia e/ou alterações visuais repentinas, um dos possíveis diagnósticos da causa neurológica é o aneurisma cerebral não roto. Toda vez que identificamos esta condição realizamos a estratificação do risco de ruptura para definir se há necessidade de tratamento imediato ou não. Dessa forma, não é incomum o colega oftalmologista nos encaminhar pacientes com alteração visual de causa neurológica", explica Feres.  

Para essa estratificação, o neurocirurgião conta que podem ser solicitadas angioressonâncias, com estudo de parede, denominado sequência black blood, para avaliar se há sinais de inflamação que sugerem um maior risco de ruptura. Além deste, é feita também uma angiografia cerebral, para investigar se há a presença de outras lesões aneurismáticas.  

Tratamento  

"A escolha do tipo de intervenção vai variar de acordo com as características apresentadas pelo paciente (local, tamanho, projeção, grau de acometimento, etc). Temos opção de operar com clipagem aneurismática ou por meio da endovascularização com embolização (não disponível em todo lugar, principalmente na urgência)", reforça Chaddad. 

O tratamento de aneurismas cerebrais não rotos, ao contrário daqueles eu que ocorreram ruptura, apresenta para o paciente mais segurança, menor risco de sequelas e complicações, visto que a cirurgia passa a ser eletiva e com um planejamento pré-operatório maior. Em razão disso, recomenda-se que não negligencie alterações na visão, pois podem ser um sinal de algo mais silencioso, como por exemplo, da formação de um aneurisma cerebral, que quando roto pode levar a consequências trágicas.

Sobre Dr. Feres Chaddad

Feres Chaddad é Professor e Chefe da Disciplina de Neurocirurgia da UNIFESP, Chefe da Neurocirurgia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo - e um dos maiores especialistas em neurocirurgia no país.  É uma referência nacional e internacional no campo da microcirurgia neurológica, com destacada atuação em ensino, pesquisa e prática médica. Atuando como neurocirurgião há mais de duas décadas, tem amplo domínio das mais avançadas técnicas de tratamento de doenças como aneurismas, malformações arteriovenosas cerebrais, cavernomas, epilepsias e tumores que acometem o sistema nervoso.

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