PALAVRA DO ESPECIALISTA

Artigo - Endocrinologia da mulher: calores femininos ou fogachos (SVM)

Podemos dizer que Fogachos, ou Sintomas Vasomotores (SVM), são uma das manifestações mais comuns durante a transição menopausal. Caracterizam-se por uma sensação repentina de calor, acompanhada de sudorese e, ocasionalmente, rubor facial. Este artigo explora os mecanismos fisiopatológicos, fatores de risco, impacto na qualidade de vida e abordagens terapêuticas relacionadas aos fogachos em mulheres menopausadas

Artigo - Endocrinologia da mulher: calores femininos ou fogachos (SVM) Crédito: Banco de imagens

Os fogachos são sintomas vasomotores que afetam aproximadamente 75% das mulheres durante a menopausa. Apesar de serem uma manifestação comum, os mecanismos subjacentes aos fogachos não são completamente compreendidos. Este artigo revisa a literatura disponível sobre os fogachos, com ênfase nos aspectos endocrinológicos, fatores predisponentes e estratégias de manejo.

2- Fisiopatologia dos Fogachos

2.1- Alterações Hormonais

A menopausa é caracterizada pela cessação da função ovariana e uma consequente queda nos níveis de estrogênio. Acredita-se que essa redução abrupta nos níveis de estrogênio afete o centro termorregulador no hipotálamo, resultando em uma diminuição do limiar de temperatura que desencadeia respostas de perda de calor, como vasodilatação cutânea e sudorese.

2.2- Mecanismos Neuroendócrinos

O núcleo arqueado do hipotálamo, que regula a temperatura corporal, é influenciado por neurotransmissores como a noradrenalina e a serotonina. A queda nos níveis de estrogênio pode alterar a atividade desses neurotransmissores, promovendo uma resposta termorregulatória anormal. A proteína kisspeptina/neuroquinina B/dynorphina (KNDy) no núcleo arqueado também desempenha um papel crucial, pois a neuroquinina B tem sido implicada na patogênese dos fogachos. 

2.3- Fatores Genéticos

Estudos sugerem que a predisposição aos fogachos pode ter um componente genético. Variantes genéticas em genes envolvidos na metabolização de estrogênios e na função do sistema nervoso central podem influenciar a suscetibilidade aos fogachos.

3- Fatores de Risco

3.1- Idade e Estado Menopausal

A frequência e a intensidade dos fogachos tendem a ser maiores durante os estágios iniciais da menopausa e podem variar ao longo do tempo. Mulheres na perimenopausa e nos primeiros anos pós-menopausa são mais propensas a relatar sintomas severos.

3.2- Índice de Massa Corporal (IMC)

Um IMC elevado está associado a um risco aumentado de fogachos. A adiposidade pode influenciar a termorregulação e a produção de estrogênio periférico, exacerbando os sintomas vasomotores.

3.3- Estilo de Vida e Fatores Comportamentais

Fatores como tabagismo, consumo de álcool, dieta e níveis de atividade física podem impactar a frequência e a severidade dos fogachos. O tabagismo, por exemplo, está associado a uma menopausa mais precoce e a um risco maior de fogachos.

3.4- Impacto na Qualidade de Vida

Os fogachos podem ter um impacto significativo na qualidade de vida das mulheres, afetando o sono, o humor e a função cognitiva. A interrupção do sono devido aos episódios noturnos de sudorese pode levar à fadiga diurna, irritabilidade e dificuldade de concentração.

3.5- Consequências Psicológicas

Além dos efeitos físicos, os fogachos podem causar ansiedade, depressão e diminuição da autoestima, devido ao desconforto e à imprevisibilidade dos episódios.

3.6- Saúde Geral

A frequência e a intensidade dos fogachos têm sido associadas a um risco aumentado de condições cardiovasculares e metabólicas, embora os mecanismos exatos dessa associação ainda estejam sendo investigados.

4- Abordagens Terapêuticas

4.1-Terapia Hormonal

A terapia de reposição hormonal (TRH) é a intervenção mais eficaz para o alívio dos fogachos. A TRH envolve a administração de estrogênios, com ou sem progestagênios, para restaurar os níveis hormonais e aliviar os sintomas. No entanto, a TRH deve ser personalizada e monitorada devido aos riscos potenciais, como tromboembolismo venoso e câncer de mama.

4.2-Terapias Não-Hormonais

Para mulheres que não podem ou não desejam usar TRH, opções não-hormonais, como antidepressivos inibidores da recaptação de serotonina/noradrenalina (IRSs/IRSNs), clonidina e gabapentina, podem ser eficazes. Essas terapias modulam os neurotransmissores envolvidos na termorregulação e podem reduzir a frequência e a intensidade dos fogachos.

4.3- Intervenções Comportamentais e de Estilo de Vida

Mudanças no estilo de vida, como a prática regular de exercícios físicos, a manutenção de um peso saudável, a cessação do tabagismo e a redução do consumo de álcool, podem ajudar a aliviar os fogachos. Técnicas de gerenciamento de estresse, como ioga, meditação, hipnose e terapias cognitivo-comportamentais, também podem ser benéficas.

4.4- Terapias Complementares e Alternativas

Algumas mulheres optam por terapias complementares, como fitoterápicos (por exemplo, isoflavonas de soja, cimicifuga racemosa), acupuntura e suplementos nutricionais. A eficácia dessas abordagens varia e muitas vezes carece de evidências robustas de estudos clínicos, sendo importante discutir essas opções com um profissional de saúde.

5- Considerações Finais

Os fogachos são sintomas vasomotores prevalentes e perturbadores na vida de muitas mulheres durante a menopausa. A compreensão dos mecanismos subjacentes e dos fatores de risco associados é essencial para o desenvolvimento de estratégias de manejo eficazes para atenuar esse incomodo nas pacientes. Embora a terapia hormonal continue sendo a intervenção mais eficaz e preconizadas, opções não- hormonais e mudanças no estilo de vida também desempenham um papel importante no manejo dos fogachos. A pesquisa contínua é necessária para aprimorar nosso entendimento e proporcionar alívio para as mulheres afetadas.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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