PALAVRA DO ESPECIALISTA

Artigo - Peptídeos Natriuréticos - Os hormônios produzidos pelo coração humano e sua relação com a prática de exercícios físicos

Os hormônios natriuréticos são peptídeos produzidos pelo coração humano e desempenham um papel crucial na regulação da homeostase cardiovascular

Artigo - Peptídeos Natriuréticos - Os Hormônios Produzidos pelo Coração Humano e sua relação com a prática de exercícios físicos Crédito: Banco de imagens

Este artigo tem como objetivo revisar a literatura atual sobre os hormônios natriuréticos, com foco na sua fisiologia, mecanismo de ação, e implicações clínicas. A pesquisa foi conduzida através de uma análise sistemática de artigos científicos relevantes publicados nos últimos dez anos. Os resultados indicam que os hormônios natriuréticos não apenas regulam o volume sanguíneo e a pressão arterial, mas também têm potencial terapêutico em condições como insuficiência cardíaca e hipertensão.

Os hormônios natriuréticos, incluindo o peptídeo natriurético atrial (ANP), peptídeo natriurético cerebral (BNP), e peptídeo natriurético tipo C (CNP), são cruciais para a regulação da homeostase cardiovascular. Inicialmente identificados por sua capacidade de promover natriurese e diurese, esses peptídeos também exibem propriedades vasodilatadoras e antifibróticas. Este estudo visa explorar os avanços na compreensão dos hormônios natriuréticos e suas aplicações clínicas.

Foi realizada uma revisão sistemática da literatura utilizando bases de dados como PubMed, Scopus, e Web of Science. Foram incluídos estudos publicados entre 2013 e 2023 que abordavam aspectos fisiológicos, moleculares e clínicos dos hormônios natriuréticos. A seleção dos artigos foi baseada em critérios de relevância, metodologia robusta e impacto científico.

Fisiologia dos Hormônios Natriuréticos

Estrutura e Síntese

Os hormônios natriuréticos são sintetizados e secretados principalmente pelos cardiomiócitos em resposta ao aumento do estiramento das paredes do átrio e ventrículo. O ANP é secretado pelo átrio, enquanto o BNP é produzido principalmente nos ventrículos. O CNP, embora menos estudado, é produzido em várias partes do corpo, incluindo o endotélio vascular.

Mecanismo de Ação

Os hormônios natriuréticos atuam principalmente através de receptores de membrana guanilato ciclase (NPR-A e NPR-B), que catalisam a conversão de GTP em GMP cíclico (cGMP). Este segundo mensageiro medeia a maioria dos efeitos biológicos dos hormônios natriuréticos, incluindo vasodilatação, inibição da proliferação celular e aumento da permeabilidade capilar.

Implicações Clínicas

Insuficiência Cardíaca

Os níveis plasmáticos de BNP e NT-proBNP (fragmento inativo do BNP) são marcadores diagnósticos e prognósticos estabelecidos para insuficiência cardíaca. O BNP, em particular, é liberado em resposta ao aumento da pressão ventricular e pode ser utilizado para monitorar a eficácia do tratamento.

Hipertensão

Estudos indicam que os hormônios natriuréticos têm um papel potencial no tratamento da hipertensão resistente. A administração de análogos sintéticos do BNP mostrou reduzir a pressão arterial em pacientes com hipertensão resistente ao tratamento convencional.

Síndrome Coronariana Aguda

Em pacientes com síndrome coronariana aguda, níveis elevados de BNP estão associados a um pior prognóstico. A medição do BNP pode ajudar na estratificação de risco e na determinação de estratégias terapêuticas mais agressivas.

Potencial Terapêutico

Terapias Baseadas em Hormônios Natriuréticos

A terapia com análogos do BNP, como o nesiritide, tem sido explorada no tratamento de insuficiência cardíaca aguda. Embora estudos iniciais tenham mostrado benefícios hemodinâmicos, ensaios clínicos subsequentes têm resultados mistos quanto aos desfechos clínicos a longo prazo.

Inibidores de Neprilisina

A neprilisina é uma enzima que degrada os hormônios natriuréticos. Inibidores de neprilisina, como o sacubitril/valsartan, aumentam a disponibilidade dos hormônios natriuréticos, proporcionando benefícios adicionais na insuficiência cardíaca crônica.

Desafios e Limitações

Apesar dos avanços significativos, a utilização clínica dos hormônios natriuréticos enfrenta desafios, incluindo a variabilidade individual na resposta ao tratamento e a necessidade de monitoramento contínuo dos níveis hormonais. Além disso, a terapêutica baseada em hormônios natriuréticos precisa ser balanceada com os riscos de hipotensão e disfunção renal.

Perspectivas Futuras

Pesquisas futuras devem focar em entender melhor os mecanismos moleculares dos hormônios natriuréticos e desenvolver novos análogos com perfis de segurança e eficácia aprimorados. Estudos de longo prazo são necessários para avaliar o impacto das terapias baseadas em hormônios natriuréticos nos desfechos clínicos e na qualidade de vida dos pacientes.

Relação e Influência dos Peptídeos Natriuréticos e Exercícios Físicos

Os peptídeos natriuréticos, especialmente o BNP, têm sido investigados por sua relação com o exercício físico e a saúde cardiovascular. Durante o exercício, o aumento do retorno venoso e a elevação da pressão intracardíaca estimulam a liberação de ANP e BNP pelos cardiomiócitos. Esses peptídeos promovem vasodilatação, natriurese e diurese, ajudando a regular a homeostase de fluidos e a pressão arterial durante a atividade física.

Efeitos Agudos do Exercício

Estudos demonstram que, durante exercícios físicos agudos, os níveis de BNP aumentam temporariamente em resposta ao estresse hemodinâmico e ao aumento da pressão de enchimento ventricular. Esse aumento é particularmente observado em exercícios de alta intensidade e em indivíduos com condições cardiovasculares preexistentes. O aumento transitório do BNP auxilia na manutenção do equilíbrio hemodinâmico, promovendo a redução da pré-carga e pós-carga cardíaca.

Efeitos Crônicos do Exercício

A prática regular de exercícios físicos tem efeitos benéficos sobre os níveis basais de peptídeos natriuréticos. Indivíduos fisicamente ativos tendem a apresentar níveis mais baixos de BNP em repouso, refletindo uma melhor função cardíaca e menor estresse ventricular. Além disso, o exercício regular melhora a sensibilidade dos receptores de ANP e BNP, potencializando seus efeitos benéficos na regulação da pressão arterial e do volume sanguíneo.

Implicações Clínicas

A relação entre exercícios físicos e peptídeos natriuréticos tem implicações clínicas significativas. A atividade física regular é recomendada como parte integrante da prevenção e tratamento da insuficiência cardíaca e hipertensão. Os níveis de BNP podem ser utilizados para monitorar a resposta ao exercício e ajustar programas de reabilitação cardiovascular. Pacientes com níveis elevados de BNP após o exercício podem necessitar de avaliação mais detalhada para identificar possíveis disfunções cardíacas subjacentes.

Os hormônios natriuréticos representam um componente crucial da regulação cardiovascular, com aplicações clínicas promissoras na insuficiência cardíaca e hipertensão. Apesar das limitações atuais, o desenvolvimento contínuo de terapias baseadas em hormônios natriuréticos oferece uma perspectiva promissora para o manejo de doenças cardiovasculares.

Pesquisas adicionais são necessárias para esclarecer os mecanismos exatos pelos quais o exercício físico influencia a liberação e a ação dos peptídeos natriuréticos. Estudos longitudinais podem ajudar a determinar o impacto do exercício de diferentes intensidades e durações sobre a saúde cardiovascular e os níveis de BNP. Além disso, investigar a interação entre o exercício físico e outras terapias baseadas em peptídeos natriuréticos pode oferecer novas abordagens para o manejo de doenças cardiovasculares.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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