PALAVRA DO ESPECIALISTA

Artigo - hiperinsulinemia, resistência periférica à insulina e sua influência na medicina do esporte e resultados corporais

A hiperglicemia e a resistência periférica à insulina são condições metabólicas centrais na homeostase glicêmica e no desenvolvimento do diabetes tipo 2

Artigo - hiperinsulinemia, resistência periférica à insulina e sua influência na medicina do esporte e resultados corporais Crédito: Banco de imagens

Estas condições têm um impacto significativo no metabolismo energético e nos resultados corporais obtidos através da prática de exercícios físicos. Este artigo revisa a fisiopatologia da hiperglicemia e da resistência à insulina, examinando como essas condições influenciam o metabolismo humano e os resultados de indivíduos que praticam atividades físicas regulares, com foco na hipertrofia muscular e na composição corporal.

O controle glicêmico é um processo fisiológico regulado principalmente pela insulina, um hormônio anabólico secretado pelas células beta pancreáticas. A hiperglicemia crônica e a resistência periférica à insulina são características do diabetes tipo 2 e estão associadas a diversos distúrbios metabólicos. Este artigo explora a relação entre hiperglicemia, resistência à insulina e suas implicações para o metabolismo humano, especialmente no contexto do exercício físico e do treinamento de força.

Fisiopatologia da Hiperglicemia e da Resistência à Insulina

Mecanismos Moleculares

A resistência à insulina envolve alterações na sinalização intracelular, incluindo a fosforilação do substrato do receptor de insulina (IRS), a diminuição da atividade da proteína quinase B (Akt) e a redução na translocação do transportador de glicose tipo 4 (GLUT4) para a membrana celular. A inflamação crônica de baixo grau, com aumento de citocinas como o fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleucina-6 (IL-6), também contribui para a resistência à insulina  .

Hiperglicemia Crônica

A hiperglicemia prolongada pode resultar na glicação de proteínas e na formação de produtos finais de glicação avançada (AGEs), que danificam estruturas celulares e agravam a resistência à insulina. Estudos mostram que os AGEs estão envolvidos no desenvolvimento de complicações microvasculares e macrovasculares do diabetes .

Metabolismo Energético e Hiperglicemia

O metabolismo energético é fundamentalmente alterado em condições de hiperglicemia e resistência à insulina. O equilíbrio entre a oxidação de carboidratos e lipídios é perturbado, resultando em lipólise aumentada e oxidação de ácidos graxos como fontes de energia.

Oxidação de Lipídios

Indivíduos com resistência à insulina apresentam redução na utilização de glicose como fonte de energia, levando ao aumento na oxidação de ácidos graxos. Isso pode resultar na acumulação de lipídios intramiocelulares e consequente lipotoxicidade, agravando ainda mais a resistência à insulina.

Impacto na Via de Sinalização do mTOR

A via de sinalização do alvo de rapamicina em mamíferos (mTOR) é crucial para a síntese proteica e hipertrofia muscular. A insulina é um regulador positivo da via mTOR. Portanto, a resistência à insulina pode levar a uma ativação reduzida da mTOR, afetando negativamente a síntese proteica muscular e os ganhos de massa muscular em indivíduos que praticam exercícios de resistência .

Exercício Físico e Resistência à Insulina

O exercício físico é uma intervenção eficaz para melhorar a sensibilidade à insulina e o controle glicêmico. A contração muscular induzida pelo exercício promove a translocação do GLUT4 para a membrana celular de maneira independente da insulina, aumentando a captação de glicose .

Efeitos do Exercício Aeróbico

O exercício aeróbico regular melhora a capacidade oxidativa mitocondrial e a utilização de glicose, reduzindo os níveis de glicose no sangue e melhorando a sensibilidade à insulina. Estudos demonstram que a prática regular de exercício aeróbico pode reduzir significativamente a hemoglobina glicada (HbA1c) e os níveis de glicose plasmática de jejum em indivíduos com diabetes tipo 2 .

Efeitos do Treinamento de Resistência

O treinamento de resistência, ou musculação, também tem efeitos benéficos sobre a sensibilidade à insulina. A hipertrofia muscular resultante do treinamento de resistência aumenta a massa muscular esquelética, um dos principais sítios de captação de glicose, e melhora a homeostase glicêmica. A combinação de treinamento aeróbico e de resistência pode proporcionar benefícios sinérgicos no controle glicêmico e na composição corporal  .

Resultados Corporais na Academia

A resistência à insulina e a hiperglicemia podem influenciar os resultados corporais na academia, incluindo a composição corporal, a hipertrofia muscular e a performance física.

Hipertrofia Muscular

A resistência à insulina pode comprometer a hipertrofia muscular ao reduzir a síntese proteica. Indivíduos com resistência à insulina podem necessitar de estratégias de treinamento mais específicas e de uma nutrição adequada para otimizar os ganhos musculares .

Composição Corporal

A resistência à insulina está associada a um aumento na adiposidade visceral (gordura entre os órgãos) e a uma dificuldade em perder gordura corporal. A prática regular de exercícios, juntamente com intervenções dietéticas, é fundamental para melhorar a composição corporal em indivíduos com resistência à insulina .

Performance Física

A resistência à insulina pode afetar a performance física ao reduzir a disponibilidade de glicose para os músculos em atividade. Estratégias para melhorar a sensibilidade à insulina,podem incluir estratégias como o treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT), que pode ser eficaz para melhorar a performance física em indivíduos com resistência à insulina .

Considerações Finais

A hiperglicemia e a resistência periférica à insulina são condições associadas que têm um impacto significativo no metabolismo energético e nos resultados corporais de indivíduos que praticam exercícios físicos. A compreensão da fisiopatologia dessas condições e a implementação de estratégias de exercício adequadas são fundamentais para otimizar a saúde metabólica e os resultados físicos. A intervenção precoce e a manutenção de um estilo de vida ativo são essenciais para mitigar os efeitos adversos da resistência à insulina e da hiperglicemia no metabolismo humano.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

Comentários