Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), todos os anos mais pessoas morrem como resultado de suicídio do que por HIV, malária ou câncer de mama. No Brasil, a taxa de mortalidade anual por suicídio é de 12,6% para cada 100 mil homens e 5,4% para cada 100 mil mulheres.
Pesquisas apontam que a depressão e o risco de suicídio estão intimamente relacionados. Entre os muitos aspectos que influenciam a saúde mental, a nutrição é um fator que pode ter um impacto relevante, embora muitas vezes subestimado. Pacientes com doenças emocionais frequentemente apresentam uma alimentação desordenada, pobre em nutrientes e rica em calorias, o que pode levar a processos inflamatórios que agravam os sintomas. Dessa forma, uma alimentação equilibrada pode desempenhar um papel fundamental tanto no surgimento quanto na gravidade e duração da doença.
A depressão pode se manifestar através de diversos sintomas, incluindo:
Ansiedade, sentimentos de letargia e fadiga, irritabilidade, dificuldade de concentração, perda de prazer nas atividades diárias, falta de alegria na vida e perda de interesse em atividades anteriormente prazerosas.
Por isso, diagnosticar, tratar, respeitar e apoiar pessoas com depressão é essencial para a prevenção do suicídio. É crucial manter um peso saudável, estimular a prática diária de atividade física, melhorar a qualidade do sono e corrigir deficiências nutricionais que prejudicam a produção de neurotransmissores, como serotonina, dopamina, noradrenalina e ácido γ-aminobutírico (GABA), essenciais para a saúde emocional de cada indivíduo. Além disso, é importante estimular o uso correto dos medicamentos e a prática do autocuidado.
Dieta e Bem-Estar Emocional – O Que a Ciência Diz
- Uma meta-análise realizada em 2016, com 21 estudos de dez países que avaliaram padrões dietéticos e o risco de depressão, concluiu que um padrão alimentar caracterizado por alta in[gestão de frutas, vegetais, grãos integrais, peixes, azeite, laticínios magros e antioxidantes está associado a uma diminuição do risco de depressão.
Em contraste, um padrão alimentar com alto consumo de carne vermelha e processada, doces, laticínios com alto teor de gordura, manteiga, batatas e molhos industrializados ricos em gorduras está relacionado ao aumento do risco de depressão. Os resultados desta meta-análise sugerem que um padrão alimentar saudável pode diminuir o risco de depressão, enquanto o estilo ocidental de alimentação pode aumentá-lo.
- Uma revisão sistemática e meta-análise de 2018, que investigou a qualidade da dieta e o risco de depressão, mostrou que a adesão a uma dieta de alta qualidade, como a mediterrânea, foi associada a um menor risco de sintomas depressivos. Além disso, uma alimentação com baixo índice inflamatório também foi associada a uma menor incidência de sintomas depressivos.
- O impacto terapêutico de mudanças alimentares em doenças mentais vem sendo amplamente reconhecido. Um ensaio clínico randomizado e controlado, realizado em 2017, investigou a melhora da dieta em adultos com depressão grave durante 12 semanas, o resultado mostrou que a melhora da dieta pode ser uma estratégia de tratamento eficaz e acessível para o manejo desse transtorno mental altamente prevalente, com benefícios que podem se estender a outras comorbidades comuns.
Veja Alguns Nutrientes Fundamentais para a Saúde Emocional
Selênio: Estudos mostram que a ingestão de selênio pode melhorar o humor, reduzir a ansiedade e diminuir sintomas de depressão.
- Fontes Alimentares: grãos integrais, castanha-do-pará, frutos do mar e fígado.
Ácidos Graxos Ômega-3: O ômega-3 pode reduzir o risco de transtornos de humor e doenças cerebrais, melhorando a função cerebral e preservando a bainha de mielina que protege as células nervosas.
Fontes Alimentares: salmão, sardinha, atum, arenque, cavala, linhaça e sementes de chia.
Antioxidantes: A relação entre antioxidantes, como o β-caroteno, e transtornos psicológicos tem sido cada vez mais estudada. Um estudo de 2020 sobre a ingestão de β-caroteno e vitamina E e o risco de depressão, ansiedade e estresse mostrou que quanto maior a ingestão de β-caroteno, menor a prevalência desses transtornos. Além disso, foi encontrada uma relação inversa entre vitamina E e o risco de estresse.
- Fontes Alimentares: abóbora, beterraba, cenoura, espinafre, kiwi, laranja, limão, manga, melão, morango, papaia e tomate cozido.
Folato (Vitamina B9): O baixo status de folato tem sido associado à depressão e à resposta negativa aos antidepressivos, possivelmente devido ao papel do folato nas reações de metilação no cérebro, síntese de neurotransmissores e metabolismo da homocisteína. Um estudo de coorte com 1.592 mulheres chinesas encontrou uma menor prevalência de depressão pós-parto em gestantes suplementadas com ácido fólico por mais de 6 meses durante a gravidez.
Grupos em Risco de Deficiência de Folato:
- Pessoas com transtorno de uso de álcool
- Mulheres em idade fértil
- Gestantes
- Pessoas com doença celíaca e doença inflamatória intestinal
- Pessoas com polimorfismo MTHFR (capacidade reduzida de converter folato para forma ativa, 5-MTHF, devido à menor atividade da enzima metilenotetra-hidrofolato redutase).
- Fontes Alimentares: Vegetais de folhas escuras, frutas, nozes, feijões, grãos integrais, laticínios, carnes, aves e ovos.
Vitamina D: Um crescente corpo de evidências vincula a vitamina D à melhora da depressão, com base em três linhas principais de evidência:
- Níveis séricos mais baixos de vitamina D em pessoas deprimidas em comparação aos grupos controles.
- Presença de receptores de vitamina D em várias partes do sistema límbico do cérebro, cerebelo e córtex, que controlam as emoções e o comportamento.
- O importante papel modulador que a vitamina D desempenha na regulação das vias inflamatórias, consideradas relevantes para a fisiopatologia da depressão.
- Além da exposição solar, alguns alimentos como peixes oleosos, laticínios fortificados, bife de fígado e ovos também fornecem vitamina D.
Vitamina B12 (Cobalamina)
A vitamina B12 é um micronutriente essencial para o cérebro e o sistema nervoso, frequentemente utilizado para auxiliar no manejo da ansiedade. Ela desempenha um papel crucial na manutenção da função normal dos nervos, o que pode ajudar a combater os sintomas físicos da ansiedade. A deficiência de vitamina B12 pode resultar em níveis aumentados de ansiedade e outros sintomas psiquiátricos. Por isso, a suplementação de vitamina B12, quando orientada por um profissional de saúde, pode ser uma excelente opção natural para o apoio à saúde emocional.
- Fontes Alimentares: carne bovina, porco e frango, peixes, leite, queijo, iogurte, ovos e alimentos fortificados.
Probióticos e Prebióticos
Seu intestino e seu cérebro estão intimamente conectados. O revestimento intestinal é composto por milhões de células nervosas, ou neurônios, e a maneira como eles funcionam é influenciada pelas bactérias intestinais, que por sua vez são afetadas pelas nossas escolhas alimentares. Essas bactérias desempenham um papel crucial na produção de neurotransmissores importantes, como a serotonina, da qual cerca de 90% é produzida no intestino.
Alguns alimentos fermentados que contêm probióticos incluem iogurte, missô e vegetais em conserva. Além disso, é importante alimentar as bactérias saudáveis com prebióticos, um tipo de fibra presente em frutas e vegetais, como maçãs, alcachofras, aspargos e cebolas.
Tirosina e Triptofano
A tirosina e o triptofano são aminoácidos que atuam como precursores de neurotransmissores importantes para melhorar o humor, a ansiedade e a depressão. No corpo, a tirosina é convertida em dopamina, um neurotransmissor envolvido na atenção e no prazer. Por outro lado, o triptofano é convertido em serotonina, que ajuda a regular a resposta ao estresse, à depressão, à ansiedade e ao humor.
Fontes Alimentares: Carne, laticínios, nozes, sementes, grãos integrais, aveia e banana.
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