Dia 10 de setembro é celebrado o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, assunto que deve ser amplamente discutido devido ao aumento dos índices. No Brasil, o anuário Brasileiro de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em 2023, revelou que no ano anterior houve 16.262 casos no país, correspondendo a uma taxa de oito suicídios por 100 mil habitantes, uma elevação de 11,8% em relação a 2021. Entre essa população estão os idosos, cuja taxa de suicídio vem crescendo.
Números registrados no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) apontam que na faixa etária acima dos 60 anos, a taxa de brasileiros que tiraram a própria vida saltou de 6,8 a cada 100 mil habitantes em 2010 para 7,8 em 2019, de acordo com boletim epidemiológico divulgado no ano passado pelo Ministério da Saúde.
Neste período, os idosos representaram 15,2% do total de 112.230 mortes por suicídio no país, sendo que a principal causa dessas tentativas de acabar com a vida se deve a depressão. Esse caso é preocupante porque o número de idosos só tende a aumentar. Segundo o Censo do IBGE, o índice de envelhecimento considerando a população com 60 anos ou mais chegou a 80,0 em 2022, com 80 pessoas idosas para cada 100 crianças de 0 a 14 anos.
A fisioterapeuta, doutora em Gerontologia e membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG) seccional do Paraná, Cristina Cristovão Ribeiro, percebeu ao longo dos 20 anos trabalhando com idosos que aqueles que possuem algum propósito de vida, tinham mais motivação para viver, conseguindo fazer planos, traçar metas e realizar sonhos, proporcionando assim um envelhecer mais saudável tanto fisicamente quanto mentalmente. Ter um propósito de vida ajuda também a evitar doenças como a depressão, que agravada pode levar ao suicídio.
O propósito de vida (PV) para os idosos pode contribuir para fortalecer suas reservas neurológicas e cognitivas, o senso de controle e de competência, além de atenuar, postergar e diminuir o ritmo do declínio cognitivo e do desenvolvimento da morbidade e da incapacidade na idade avançada. O desafio hoje não é viver mais, e sim viver com qualidade, por isso é importante pensar em estratégias e variáveis que possam contribuir para esse ‘viver melhor’ e por isso é tão importante pensar no propósito de vida.
PV é uma variável psicológica e que hoje está atrelado a muitas possibilidades e benefícios para a vida dos idosos. Quem tem propósito de vida cuida mais da saúde, se preserva mais, adere aos tratamentos com mais afinco e procura se envolver em atividades de lazer e sociais. A pessoa passa a se sentir útil e produtiva.
Familiares, amigos e vizinhos devem observar como o idoso se comporta. Ver se ele está feliz, se tem algo que o motive, algo que deseje realizar. É preciso estimular os propósitos de vida da pessoa idosa, perguntar e não achar que é normal da idade a pessoa ficar triste e não querer se envolver em reuniões familiares ou participar de encontros sociais. Isso pode ser sinal do início de uma depressão.
É fundamental também que as políticas públicas sobre o tema continuem a crescer e se expandir. Quanto mais pessoas se informarem sobre a prevenção do suicídio melhor, pois saberão que depressão e transtornos mentais possuem tratamento. Quando a pessoa comete o suicídio, ela quer dar um fim aquela angústia e é importante ter o amparo de um tratamento multidisciplinar e livre de preconceitos.
É preciso estabelecer um debate sobre o envelhecimento no Brasil para que ele seja bem-sucedido, oferecendo ferramentas para melhorar a qualidade de vida dos idosos como o incentivo ao propósito, a fim de proporcionar a essa população um envelhecer com saúde física e mental e bem-estar.
Cristina Ribeiro começou a pesquisar a temática do propósito de vida da pessoa idosa desde 2018, a partir da sua tese de doutorado, desde de então publicou vários artigos científicos e este ano lançou o livro o qual organizou ‘Propósito de vida da pessoa idosa’ (Summus Editorial) reunindo outros 13 autores, especialistas em gerontologia de diferentes áreas de atuação.
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