PALAVRA DO ESPECIALISTA

Medicina estética versus treinamento resistido: a influência da prática da musculação no envelhecimento facial

O processo de envelhecimento facial é influenciado por fatores intrínsecos e extrínsecos, entre os quais a prática de exercícios físicos, especialmente o treinamento resistido possui influência direta

Medicina estética versus treinamento resistido: a influência da prática da musculação no envelhecimento facial Crédito: Banco de imagens

Este artigo tem como objetivo explorar a relação entre a musculação e o envelhecimento facial, considerando seus efeitos na pele, músculos e estrutura óssea. A medicina estética tem sido amplamente empregada para mitigar os sinais de envelhecimento, utilizando uma variedade de procedimentos, desde injetáveis até tecnologias de rejuvenescimento não invasivas. Por outro lado, a musculação, quando realizada de maneira constante, pode contribuir para a manutenção da tonicidade muscular e elasticidade da pele, além de influenciar a composição do tecido adiposo facial. Neste artigo, são discutidos os mecanismos fisiológicos e moleculares envolvidos nesses processos, assim como as abordagens estéticas para combater os efeitos adversos do envelhecimento facial associado ao treinamento resistido.

O envelhecimento facial é um processo complexo que envolve a interação de fatores genéticos, hormonais, ambientais e comportamentais. Com o aumento da longevidade, a busca por tratamentos que retardem os sinais do envelhecimento tem crescido, especialmente no campo da medicina estética. Por outro lado, o treinamento resistido, ou musculação, tornou-se uma prática popular tanto para o aumento da massa muscular quanto para a manutenção da saúde geral. Contudo, os impactos dessa prática no envelhecimento facial ainda são pouco explorados na literatura médica.

Fisiologia do Envelhecimento Facial

O envelhecimento facial envolve a degradação progressiva de estruturas como pele, tecido adiposo, músculos e ossos. Os principais sinais incluem a perda de elasticidade, surgimento de rugas, diminuição do volume facial e ptose (queda) das estruturas faciais. A pele torna-se mais fina e perde colágeno, resultando em flacidez e formação de linhas de expressão.

Do ponto de vista fisiológico, o envelhecimento também resulta em mudanças nas camadas mais profundas do tecido adiposo, com redistribuição da gordura facial, o que acentua as áreas de flacidez e dá origem a sulcos profundos, como o bigode chinês.

Efeitos do Treinamento Resistido no Envelhecimento Facial

A musculação, quando realizada com regularidade, exerce efeitos positivos na composição corporal, aumentando a massa muscular e diminuindo a gordura corporal total. Entretanto, o impacto dessa prática no rosto é ambíguo. Enquanto o aumento do tônus muscular pode retardar a perda de elasticidade da pele, o efeito lipolítico da musculação pode reduzir o volume do tecido adiposo facial, acelerando o processo de envelhecimento em alguns indivíduos.

Tonicidade Muscular e Pele

O treinamento resistido pode aumentar a tonicidade dos músculos faciais indiretamente, uma vez que melhora o tônus muscular geral. Isso é particularmente importante para a preservação da estrutura subjacente da pele. A pele que cobre músculos tonificados tende a manter-se mais firme, o que ajuda a evitar a formação de rugas e flacidez prematura. No entanto, a perda de gordura facial associada ao treinamento resistido intenso pode levar a uma aparência mais envelhecida, com perda de volume nas bochechas e no contorno mandibular.

Redistribuição de Gordura Facial

A lipólise induzida pelo treinamento resistido pode acelerar a perda de gordura facial. Embora essa redistribuição seja desejável no corpo, para reduzir o excesso de gordura, no rosto pode resultar em uma aparência esquelética e acentuar os sinais de envelhecimento. Esse fenômeno é frequentemente observado em atletas de fisiculturismo que seguem dietas restritivas e treinamentos intensos, resultando na perda de gordura subcutânea facial.

Mecanismos Hormonais Envolvidos

O exercício físico regular, especialmente o treinamento resistido, altera significativamente o perfil hormonal do organismo. A musculação aumenta a produção de testosterona, hormônio de crescimento (GH) e o fator de crescimento semelhante à insulina tipo 1 (IGF-1). Esses hormônios estão envolvidos no crescimento muscular, regeneração tecidual e metabolismo lipídico.

Testosterona

A testosterona, um dos principais hormônios anabólicos, desempenha um papel importante na manutenção da massa muscular e na regeneração dos tecidos. No contexto facial, níveis adequados de testosterona podem ajudar a preservar a estrutura óssea e a integridade muscular, contribuindo para um envelhecimento mais lento. Entretanto, níveis excessivos, como observados em fisiculturistas que utilizam esteroides anabolizantes, podem acelerar a degradação do tecido adiposo facial, exacerbando o envelhecimento.

Hormônio de Crescimento (GH) e IGF-1

O GH e o IGF-1 têm efeitos diretos na síntese de colágeno e na regeneração da pele e tecidos. A prática de musculação pode aumentar os níveis desses hormônios, promovendo a reparação dos tecidos e melhorando a elasticidade da pele. No entanto, em níveis elevados, esses hormônios podem induzir o crescimento desordenado de tecidos, levando a uma aparência facial desproporcional, como visto em casos de acromegalia.

Abordagem da Medicina Estética

A medicina estética oferece uma gama de intervenções que visam combater os sinais do envelhecimento facial, muitas das quais complementam ou corrigem os efeitos adversos da perda de gordura facial e da tonicidade muscular. Entre as abordagens mais comuns estão o uso de toxina botulínica, preenchimentos dérmicos com ácido hialurônico e procedimentos de radiofrequência e ultrassom para estimular a produção de colágeno.

Preenchimentos Faciais

Os preenchimentos faciais, como o ácido hialurônico, são amplamente utilizados para restaurar o volume perdido no rosto, especialmente em áreas como bochechas, lábios e mandíbula. Eles podem compensar a perda de tecido adiposo induzida pelo treinamento resistido, promovendo uma aparência mais jovem e harmoniosa.

Bioestimulação  de colágeno

Procedimentos que estimulam a produção de colágeno, como a radiofrequência, são frequentemente recomendados para pacientes que apresentam flacidez e perda de elasticidade cutânea. Esses procedimentos complementam os benefícios da musculação, ajudando a manter a firmeza da pele.

Diferenças entre Atletas e Indivíduos Esteticamente Motivados

Na preparação de atletas para competições de fisiculturismo, a ênfase está na redução máxima do percentual de gordura corporal, incluindo a gordura facial. Isso resulta em um aspecto mais marcado e, em alguns casos, envelhecido. Já os indivíduos que treinam com fins estéticos podem buscar um equilíbrio entre a manutenção da massa muscular e a preservação do volume facial, recorrendo mais frequentemente a intervenções estéticas para mitigar os efeitos adversos da perda de gordura facial.

Considerações Finais

A prática de musculação pode ter efeitos positivos na tonicidade muscular e na manutenção da elasticidade da pele, retardando alguns aspectos do envelhecimento facial. No entanto, a perda de gordura facial associada à musculação intensa pode acelerar o aparecimento de rugas e flacidez. A medicina estética desempenha um papel fundamental na compensação desses efeitos, oferecendo soluções eficazes para restaurar o volume e melhorar a textura da pele. A combinação de treinamento físico adequado e intervenções estéticas personalizadas pode oferecer uma abordagem mais equilibrada e saudável ao envelhecimento facial.

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Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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