A diplopia é uma condição de visão dupla que pode ocorrer após fraturas da órbita ocular, uma região com estrutura óssea e muscular complexa, frequentemente afetada em traumas crânio maxilo faciais. Devido à natureza delicada dos tecidos orbitais, lesões nessa região são particularmente desafiadoras, com impacto significativo na função visual e na qualidade de vida do paciente. Este estudo revisa os mecanismos que causam diplopia após fraturas orbitais, suas manifestações clínicas e os principais métodos de intervenção cirúrgica na correção dessa complicação.
2. Aspectos Anatômicos e Fisiológicos da Órbita Ocular
A compreensão da diplopia nos casos de fraturas orbitais requer um conhecimento detalhado da anatomia da órbita. A órbita ocular consiste de sete ossos que formam uma estrutura côncava para proteção do globo ocular e seus anexos. Os músculos extraoculares, que incluem o reto medial, reto lateral, reto superior, reto inferior, oblíquo superior e oblíquo inferior, são responsáveis pela mobilidade ocular coordenada. A integridade dessas estruturas é fundamental para a manutenção da visão binocular. Em traumas orbitais, especialmente na região do assoalho e da parede medial da órbita, ocorre risco de encarceramento muscular e deslocamento ósseo, levando à diplopia.
3. Mecanismos de Lesão nas Fraturas de Órbita
As fraturas orbitais podem ocorrer isoladamente ou em associação com outras fraturas faciais. Entre as causas mais comuns, destacam-se acidentes automobilísticos, quedas e agressões físicas. As fraturas orbitais são classificadas em “blow-out fractures” (fraturas isoladas da órbita sem outras lesões faciais) e fraturas complexas envolvendo múltiplos ossos faciais. A compressão súbita da órbita causa um deslocamento brusco do conteúdo orbital, resultando na ruptura do assoalho ou da parede medial. Esse processo pode levar ao encarceramento dos músculos extraoculares, especialmente o reto inferior, interferindo na função ocular e causando diplopia.
4. Avaliação Clínica e Diagnóstica da Diplopia Pós-Trauma
A avaliação da diplopia em pacientes com fraturas orbitais inclui exames clínicos e de imagem para identificar a extensão das lesões. Os exames clínicos envolvem a verificação da motilidade ocular, testes de campo visual e exame de acuidade visual. Em casos de trauma orbital, a tomografia computadorizada (TC) é o exame de escolha para avaliação das estruturas ósseas e para localizar fraturas e deslocamentos ósseos que afetam a mobilidade ocular. Exames de ressonância magnética (RM) também podem ser úteis para avaliação dos tecidos moles e da presença de encarceramento muscular.
5. Abordagens Cirúrgicas para Correção da Diplopia
O tratamento da diplopia decorrente de fraturas orbitais geralmente envolve procedimentos cirúrgicos para descompressão orbital e reparo das estruturas lesionadas. As indicações para intervenção cirúrgica incluem a presença de diplopia persistente, encarceramento muscular com restrição ocular e alterações no volume orbitário. As técnicas cirúrgicas comuns incluem:
• Reconstrução da Órbita com Enxerto: Utiliza-se material autógeno ou sintético para reparar o assoalho ou as paredes orbitais, restaurando o suporte estrutural.
• Descompressão Orbital: Procedimento para aliviar a pressão na órbita e permitir a liberação dos músculos encarcerados.
• Correção de Estrabismo Secundário: Em casos onde a diplopia persiste devido a desalinhamento ocular, procedimentos de realinhamento dos músculos extraoculares podem ser indicados.
6. Complicações e Resultados Pós-Operatórios
Apesar dos avanços nas técnicas cirúrgicas, complicações como o comprometimento da motilidade ocular e a persistência da diplopia são relativamente comuns. Os principais fatores que influenciam o sucesso do tratamento incluem o tempo entre o trauma e a intervenção, a complexidade da fratura e o nível de envolvimento dos tecidos moles. Estudos indicam que intervenções precoces estão associadas a melhores resultados na recuperação da função ocular.
Entre as complicações, destacam-se a enoftalmia, hipoestesia infraorbital e recidiva da diplopia. A presença de fibrose no local da fratura e a cicatrização inadequada podem contribuir para resultados insatisfatórios. Protocolos de reabilitação, incluindo exercícios oculares e, em alguns casos, o uso de prismas óticos, são recomendados para melhorar a função visual após a cirurgia.
7. Considerações Finais
A diplopia nas fraturas orbitais representa um desafio clínico significativo em cirurgia crânio maxilo facial, exigindo uma abordagem abrangente e específica. A intervenção precoce e o uso de técnicas avançadas de reconstrução orbital são fundamentais para reduzir as sequelas visuais e restaurar a visão binocular. Estudos futuros devem focar no desenvolvimento de materiais de enxerto mais eficazes e na definição de protocolos de reabilitação para pacientes com sequelas visuais persistentes. A combinação entre cirurgia reconstrutiva e técnicas de reabilitação pode melhorar significativamente os desfechos clínicos em pacientes com fraturas orbitais complexas.
Referências Bibliográficas
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