PALAVRA DO ESPECIALISTA

Medicina do Esporte e Neurologia: prática do treinamento resistido de musculação e melhora nas funções da memória e cognição cerebral

Este estudo aborda um tema ligado a Medicina do esporte associado a Neurologia que é estreita relação entre o treinamento resistido de musculação e sua influência sobre as funções cognitivas e a memória

Artigo - Prática do treinamento resistido de musculação e melhora nas funções da memória e cognição cerebrais Crédito: Banco de imagens

Pesquisas recentes indicam que a prática de exercícios resistidos pode melhorar aspectos da memória e cognição, potencializando o funcionamento neurocognitivo. Este artigo examina os mecanismos neurobiológicos envolvidos na cognição, incluindo a plasticidade cerebral, a liberação de neurotransmissores e o papel do treinamento de força. Conclui-se que o treinamento resistido de musculação, além de contribuir para a saúde física, desempenha um papel significativo na saúde mental e cognitiva, com potencial terapêutico em pacientes com déficits cognitivos.

O treinamento resistido de musculação é amplamente conhecido por seus benefícios à saúde física, incluindo o fortalecimento muscular, a melhora da resistência e a prevenção de diversas condições clínicas, como a osteoporose e o diabetes. Recentemente, no entanto, pesquisas também têm explorado o impacto positivo do treinamento resistido na saúde mental e nas funções neurológicas, particularmente nas áreas de memória e cognição. Dada a prevalência de doenças neurodegenerativas e o aumento da longevidade populacional, entender as formas de prevenção e tratamento não farmacológico, como o exercício físico, torna-se essencial para a medicina.

Este artigo revisa a literatura científica sobre os efeitos do treinamento resistido na memória e nas funções cognitivas, considerando os mecanismos neurobiológicos e os benefícios clínicos associados a essa prática. A partir disso, busca-se estabelecer o papel do treinamento resistido como intervenção eficaz na saúde cognitiva e no combate a distúrbios neurológicos.

Efeitos do Exercício Físico na Neuroplasticidade

A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de modificar-se estrutural e funcionalmente em resposta a estímulos e experiências. Estudos demonstram que o exercício físico, especialmente o treinamento resistido, promove a liberação de fatores neurotróficos, como o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), que desempenha um papel fundamental no desenvolvimento neuronal e na plasticidade sináptica. A prática regular de exercícios pode, assim, estimular o crescimento e a diferenciação das células nervosas, fortalecendo conexões neurais e aprimorando as habilidades cognitivas.

BDNF e a Melhora Cognitiva

O BDNF é um dos principais mediadores da neuroplasticidade e tem sido associado ao fortalecimento das funções de memória e aprendizado. Durante o treinamento resistido, o aumento dos níveis de BDNF pode ser observado em resposta ao estresse físico, favorecendo a consolidação da memória e o desenvolvimento de novas redes neuronais.

Treinamento Resistido e Memória: Evidências Científicas

Pesquisas têm demonstrado que o treinamento resistido pode melhorar a memória operacional e episódica. Em um estudo de meta-análise, observou-se que indivíduos que praticam musculação regularmente apresentam desempenho superior em testes de memória em comparação com grupos sedentários. Tais efeitos são especialmente significativos em populações idosas, nas quais a memória e a cognição tendem a declinar com o envelhecimento.

Memória Operacional

A memória operacional é crucial para tarefas diárias, permitindo o armazenamento e manipulação de informações em curto prazo. O treinamento resistido parece influenciar positivamente essa função, potencializando a capacidade de processamento de informações e a tomada de decisões rápidas.

Memória Episódica

A memória episódica, responsável pelo armazenamento de eventos e experiências pessoais, também mostra melhoras significativas em resposta ao treinamento resistido. Isso é atribuído ao aumento da conectividade neural e à ativação de áreas cerebrais como o hipocampo, que desempenha papel fundamental no armazenamento de memórias.

Cognição e Exercício de Força

Além da memória, a cognição geral, incluindo habilidades de raciocínio e atenção, parece ser beneficiada pelo treinamento resistido. Evidências sugerem que o aumento da força muscular contribui para uma maior eficiência dos processos mentais, sendo essa uma relação mediada pela melhora do fluxo sanguíneo cerebral e pela redução dos marcadores inflamatórios.

Funções Executivas e Raciocínio

As funções executivas, que englobam o planejamento, a organização e o controle inibitório, são diretamente impactadas pela prática de exercícios resistidos. O treinamento de força promove a ativação de áreas frontais do cérebro, essenciais para o raciocínio lógico e a resolução de problemas complexos. Esse efeito é particularmente relevante em profissionais de saúde, que necessitam de uma cognição aprimorada para o desempenho de atividades exigentes.

Atenção e Concentração

A prática de musculação também mostra-se eficiente na melhora da atenção e da capacidade de concentração. Estudos indicam que, após algumas semanas de treinamento, os indivíduos apresentam maior capacidade de foco e menor suscetibilidade a distrações, benefícios que se mantêm mesmo após o término das atividades físicas.

Mecanismos Biológicos Envolvidos

Os efeitos cognitivos do treinamento resistido são mediados por mecanismos biológicos que incluem a liberação de neurotransmissores como a dopamina e a serotonina, a redução do cortisol e o aumento do fluxo sanguíneo cerebral.

Liberação de Neurotransmissores

Durante o treinamento resistido, há uma maior liberação de dopamina, neurotransmissor relacionado à motivação e ao prazer. A serotonina, conhecida por regular o humor e promover a sensação de bem-estar, também é liberada, impactando diretamente o estado emocional e a cognição.

Redução do Estresse Oxidativo e do Cortisol

A prática de musculação reduz o estresse oxidativo e regula os níveis de cortisol, hormônio que em excesso pode prejudicar o funcionamento cognitivo e a memória. A redução do cortisol através do treinamento resistido é benéfica, especialmente em indivíduos com altos níveis de estresse.

Treinamento Resistido como Intervenção Clínica para a Saúde Mental

Considerando os efeitos neurobiológicos, o treinamento resistido pode ser integrado como uma intervenção clínica para pacientes com déficits cognitivos leves, transtornos de humor e condições neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer. Essa abordagem é vantajosa por ser de baixo custo, não invasiva e eficaz.

Benefícios em Idosos

Idosos representam um grupo especialmente beneficiado pelo treinamento resistido, dado que o envelhecimento está associado ao declínio cognitivo. O treinamento de força melhora não apenas a memória, mas também o equilíbrio e a mobilidade, aspectos fundamentais para a qualidade de vida nessa população.

Treinamento Resistido em Pacientes com Alzheimer

Para pacientes com doença de Alzheimer, o treinamento resistido auxilia na preservação da função cognitiva e na manutenção da autonomia. Pesquisas apontam que a prática regular de exercícios físicos pode retardar a progressão dos sintomas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.

Considerações Finais

O treinamento resistido de musculação apresenta evidências científicas significativas quanto à sua eficácia na melhoria das funções cognitivas e de memória. Seus benefícios ultrapassam os ganhos físicos e alcançam a saúde mental, sendo uma ferramenta importante no combate ao declínio cognitivo e na promoção do bem-estar neurológico. Devido à sua acessibilidade e eficácia, o treinamento resistido desponta como uma intervenção valiosa na prática clínica para promoção da saúde cognitiva.

Referências Bibliográficas

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• Piwek, L., Ellis, D. A., Andrews, S., & Joinson, A. (2016). The rise of consumer health wearables: Promises and barriers. PLoS Medicine.

• Nieman, D. C., & Wentz, L. M. (2019). The compelling link between physical activity and the body’s defense system. Journal of Sport and Health Science.

Dr. Edson Carlos Z. Rosa

Cirurgião, Fisiologista e Pesquisador em Ciências Médicas, Cirúrgicas e do Esporte

Diretor do Instituto de Medicina e Fisiologia do Esporte e Exercício (Metaboclinic Institute), Diretor Executivo do Centro Nacional de Ciências Cirúrgicas e Medicina Sistêmica (Cenccimes) / Diretor Executivo da União Brasileira de Médicos-Biocientistas (Unimédica) /  Presidente e Fundador da Ordem Nacional dos Cirurgiões Faciais (ONACIFA), Presidente e Fundador da Sociedade Brasileira de Medicina Humana (SOBRAMEH) e Ordem dos Doutores de Medicina do Brasil - ODMB, Doutor em Ciências Médicas e Cirúrgicas (h.c),

Pós-graduado em Clínica Medica - Medicina interna, Medicina e Fisiologia do Esporte/Exercício, Nutrologia e Nutromedicina, Fisiologia Humana Geral aplicada às Ciências da Saúde.

Escritor e Autor de Diversos Artigos na área de Medicina Geral, Medicina e Endocrinologia do Esporte, Cirurgia de Cabeça e Pescoço, Neurociência e Comportamento Humano.

Fundador-Gestor do e-Comitê Mundial de Médicos do Desporto e Exercício (Official World Group of Sports And Exercise Physicians), Fundador-Gestor Internacional de Cirurgiões Craniomaxilofaciais (The Official World Group of Craniomaxilofaciais Surgeons).

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