ESPORTES & EXERCÍCIOS

Como voltar ao esporte após uma lesão no joelho?

Lesões no joelho são comuns em quem pratica esportes, especialmente em atividades que envolvem corrida, saltos, mudanças rápidas de direção ou contato físico, como futebol, basquete, atletismo e artes marciais

 

Como voltar ao esporte após uma lesão no joelho? Crédito: Banco de imagens

Quando uma lesão acontece, a primeira pergunta que muitos atletas fazem é: “Quanto tempo vou ficar parado?” A boa notícia é que, com um plano de reabilitação bem estruturado e individualizado, a recuperação pode ser mais rápida e segura do que se imagina.

Por que nosso joelho se machuca com frequência?

O joelho é uma articulação complexa que conecta o fêmur (osso da coxa) à tíbia (osso da perna), com o auxílio de estruturas como a patela (rótula), ligamentos, meniscos e cartilagem. Ele suporta grandes cargas durante o movimento e, ao mesmo tempo, precisa oferecer mobilidade e estabilidade. Essa combinação o torna vulnerável a diversos tipos de lesão:

• Entorses ligamentares (como a ruptura do ligamento cruzado anterior – LCA);

• Lesões de menisco (estruturas que absorvem impacto e estabilizam o joelho);

• Tendinites e lesões musculares;

• Condropatias e desgaste da cartilagem articular.

Cada lesão tem características diferentes e exige uma abordagem específica. No entanto, os princípios da recuperação seguem uma lógica comum, respeitando o tempo de cicatrização dos tecidos e a progressão das cargas.

Passo 1: Avaliação e diagnóstico preciso

O primeiro passo após uma lesão é procurar um profissional de saúde qualificado, geralmente um médico ortopedista com experiência esportiva. O objetivo é entender exatamente o que foi lesionado e qual a gravidade da lesão.

Exames como a ressonância magnética ajudam a confirmar o diagnóstico e orientam o tratamento. Por exemplo, uma ruptura completa do LCA pode exigir cirurgia, enquanto uma lesão parcial pode ser tratada de forma conservadora, com fisioterapia.

Importante: Um diagnóstico incorreto ou incompleto pode atrasar a recuperação ou causar sequelas. Por isso, essa etapa é essencial para um retorno seguro ao esporte.

Passo 2: Controle da dor e inflamação (fase aguda)

Nos primeiros dias após a lesão, o foco é reduzir a dor, o inchaço e a inflamação. Isso ajuda a preservar a função do joelho e evita complicações futuras.

As principais estratégias nessa fase são:

• Gelo (crioterapia): aplicado várias vezes ao dia por 15 a 20 minutos;

• Elevação do membro e compressão com faixa elástica;

• Repouso relativo, evitando movimentos dolorosos;

• Uso de muletas, se necessário, para evitar sobrecarga;

• Medicamentos anti-inflamatórios, sob orientação médica.

O objetivo é preparar o joelho para o início da reabilitação ativa, que deve começar assim que os sintomas permitirem.

Passo 3: Reabilitação funcional (fase intermediária)

Com o controle da dor, começa a fase de reabilitação funcional, realizada com fisioterapia especializada. Nesta etapa, o atleta começa a recuperar:

• Amplitude de movimento (flexão e extensão do joelho);

• Força muscular, especialmente dos músculos da coxa e quadril;

• Equilíbrio e coordenação (propriocepção);

• Confiança no movimento.

A reabilitação é progressiva e adaptada ao tipo de lesão. Exercícios são introduzidos em fases, sempre respeitando a resposta do corpo.

Por exemplo, após a cirurgia do LCA, os estudos indicam que é essencial restaurar a força do quadríceps antes de pensar em correr ou saltar novamente (Grindem et al., 2016). Essa fase costuma durar de 4 a 12 semanas, dependendo do caso.

Passo 4: Treinamento esportivo específico (fase avançada)

Após recuperar a força e o controle do movimento, o atleta entra na fase de recondicionamento esportivo. Aqui, os exercícios passam a simular os gestos e exigências do esporte praticado.

Exemplos incluem:

• Corridas em linha reta e com mudanças de direção;

• Saltos, acelerações e desacelerações;

• Exercícios com bola, para jogadores de futebol, handebol, etc.;

• Treinos com carga metabólica e cardiovascular crescente.

Esta fase é fundamental para reduzir o risco de nova lesão. Um estudo com atletas que sofreram lesão no LCA mostrou que o retorno precoce, sem critérios objetivos, aumenta em até 4 vezes o risco de nova ruptura (Kyritsis et al., 2016).

Por isso, o retorno ao esporte deve ser baseado em testes funcionais e indicadores objetivos, como:

• Força muscular igual ou superior a 90% da perna não lesionada;

• Capacidade de salto igualada;

• Bons resultados em testes de agilidade e equilíbrio.

Passo 5: Retorno gradual ao esporte

O retorno ao esporte deve ser feito de forma gradual e monitorada, com acompanhamento da equipe médica, fisioterapeuta e preparador físico.

Uma sugestão de progressão:

1. Retorno aos treinos físicos gerais (corrida, agilidade);

2. Treinos específicos do esporte, sem contato físico;

3. Treinos com contato progressivo, simulando a competição;

4. Liberação para jogo ou competição oficial.

Muitos atletas sentem receio de se lesionar novamente. O acompanhamento psicológico pode ser importante nessa fase, ajudando a restaurar a confiança.

Quanto tempo leva para voltar ao esporte?

O tempo de retorno depende da gravidade da lesão, do tipo de tratamento e da resposta individual do atleta. Veja alguns exemplos aproximados:

• Entorse leve com lesão ligamentar parcial: 2 a 6 semanas;

• Lesão de menisco tratada sem cirurgia: 4 a 8 semanas;

• Cirurgia de menisco (meniscectomia parcial): 6 a 10 semanas;

• Reconstrução do LCA: 6 a 9 meses;

• Lesão cartilaginosa com microfraturas ou transplante: 6 a 12 meses.

Esses prazos podem variar muito. O mais importante é respeitar as etapas e não apressar o retorno.

Dicas para acelerar a recuperação (com segurança):

1. Siga um plano personalizado: cada corpo reage de forma diferente.

2. Trabalhe com profissionais especializados em medicina esportiva.

3. Mantenha o corpo ativo: mesmo com o joelho machucado, é possível treinar outras partes do corpo.

4. Foque na alimentação e sono: eles são aliados da regeneração.

5. Evite comparações com outros atletas: concentre-se no seu progresso.

6. Faça testes funcionais antes de voltar aos jogos: não se baseie apenas no “sentir-se bem”.

Referencias

1 https://adrianoleonardi.com.br/artigos/lesao-ligamento-cruzado-anterior/

2 Grindem H, Snyder-Mackler L, Moksnes H, Engebretsen L, Risberg MA. Simple decision rules can reduce reinjury risk by 84% after ACL reconstruction: the Delaware-Oslo ACL cohort study. Br J Sports Med. 2016;50(13):804-808. https://doi.org/10.1136/bjsports-2016-096031

3 Kyritsis P, Bahr R, Landreau P, Miladi R, Witvrouw E. Likelihood of ACL graft rupture: not meeting six clinical discharge criteria before return to sport is associated with a four times greater risk of rupture. Br J Sports Med. 2016;50(15):946-951. https://doi.org/10.1136/bjsports-2015-095908

4 van Melick N, van Cingel REH, Brooijmans F, Neeter C, van Tienen T, Hullegie W, Nijhuis-van der Sanden MWG. Evidence-based clinical practice update: practice guidelines for anterior cruciate ligament rehabilitation based on a systematic review and multidisciplinary consensus. Br J Sports Med. 2016;50(24):1506–1515. https://doi.org/10.1136/bjsports-2015-095898

Dr. Adriano Leonardi

Médico

Reconhecido como um dos principais especialistas em ortopedia do joelho e medicina do esporte no Brasil, o Dr. Adriano Leonardi possui uma carreira marcada pela excelência, inovação e compromisso com a saúde e o desempenho físico de seus pacientes.

Com título de especialista em cirurgia do joelho pela Sociedade Brasileira de Cirurgia de Joelho (SBCJ) e em medicina do esporte pela Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte e do Exercício (SBMEE), o Dr. Leonardi se destaca não apenas pelo conhecimento técnico, mas também por sua atuação em diversas áreas da ortopedia esportiva.

Mestre em Ortopedia e Traumatologia pela Santa Casa de São Paulo, ele também é membro da Sociedade Internacional de Preservação Articular e Regeneração Cartilaginosa (ICRS), reforçando seu compromisso com a inovação e os tratamentos mais modernos para a recuperação e prevenção de lesões articulares.

Além da prática clínica e cirúrgica, Dr. Adriano Leonardi é fundador e ex-presidente da Associação Brasileira de Medicina de Áreas Remotas e Esportes de Aventura (ABMAR), entidade que fomenta o estudo e a prática médica em contextos desafiadores, como expedições e esportes extremos. Apaixonado por aventuras, ele pratica diversos esportes radicais, incluindo mergulhos com tubarões, evidenciando seu espírito explorador e sua conexão com a natureza.

Atuando como colunista do site Globo Esporte, ele leva informação de qualidade ao grande público, abordando temas relacionados à ortopedia esportiva, prevenção de lesões e desempenho físico. Sua presença digital é igualmente forte, compartilhando conhecimento e dicas sobre ortopedia e medicina esportiva em suas redes sociais: YouTube, TikTok e Instagram (@dr.adrianoleonardi).

Dr. Adriano Leonardi também é idealizador e apresentador do podcast "Joelho no Ar", disponível em seu canal no YouTube. No programa, ele entrevista especialistas e aborda temas fundamentais sobre ortopedia esportiva, lesões, tratamentos inovadores e dicas para manter a saúde das articulações.

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