Quando uma lesão acontece, a primeira pergunta que muitos atletas fazem é: “Quanto tempo vou ficar parado?” A boa notícia é que, com um plano de reabilitação bem estruturado e individualizado, a recuperação pode ser mais rápida e segura do que se imagina.
Por que nosso joelho se machuca com frequência?
O joelho é uma articulação complexa que conecta o fêmur (osso da coxa) à tíbia (osso da perna), com o auxílio de estruturas como a patela (rótula), ligamentos, meniscos e cartilagem. Ele suporta grandes cargas durante o movimento e, ao mesmo tempo, precisa oferecer mobilidade e estabilidade. Essa combinação o torna vulnerável a diversos tipos de lesão:
• Entorses ligamentares (como a ruptura do ligamento cruzado anterior – LCA);
• Lesões de menisco (estruturas que absorvem impacto e estabilizam o joelho);
• Tendinites e lesões musculares;
• Condropatias e desgaste da cartilagem articular.
Cada lesão tem características diferentes e exige uma abordagem específica. No entanto, os princípios da recuperação seguem uma lógica comum, respeitando o tempo de cicatrização dos tecidos e a progressão das cargas.
Passo 1: Avaliação e diagnóstico preciso
O primeiro passo após uma lesão é procurar um profissional de saúde qualificado, geralmente um médico ortopedista com experiência esportiva. O objetivo é entender exatamente o que foi lesionado e qual a gravidade da lesão.
Exames como a ressonância magnética ajudam a confirmar o diagnóstico e orientam o tratamento. Por exemplo, uma ruptura completa do LCA pode exigir cirurgia, enquanto uma lesão parcial pode ser tratada de forma conservadora, com fisioterapia.
Importante: Um diagnóstico incorreto ou incompleto pode atrasar a recuperação ou causar sequelas. Por isso, essa etapa é essencial para um retorno seguro ao esporte.
Passo 2: Controle da dor e inflamação (fase aguda)
Nos primeiros dias após a lesão, o foco é reduzir a dor, o inchaço e a inflamação. Isso ajuda a preservar a função do joelho e evita complicações futuras.
As principais estratégias nessa fase são:
• Gelo (crioterapia): aplicado várias vezes ao dia por 15 a 20 minutos;
• Elevação do membro e compressão com faixa elástica;
• Repouso relativo, evitando movimentos dolorosos;
• Uso de muletas, se necessário, para evitar sobrecarga;
• Medicamentos anti-inflamatórios, sob orientação médica.
O objetivo é preparar o joelho para o início da reabilitação ativa, que deve começar assim que os sintomas permitirem.
Passo 3: Reabilitação funcional (fase intermediária)
Com o controle da dor, começa a fase de reabilitação funcional, realizada com fisioterapia especializada. Nesta etapa, o atleta começa a recuperar:
• Amplitude de movimento (flexão e extensão do joelho);
• Força muscular, especialmente dos músculos da coxa e quadril;
• Equilíbrio e coordenação (propriocepção);
• Confiança no movimento.
A reabilitação é progressiva e adaptada ao tipo de lesão. Exercícios são introduzidos em fases, sempre respeitando a resposta do corpo.
Por exemplo, após a cirurgia do LCA, os estudos indicam que é essencial restaurar a força do quadríceps antes de pensar em correr ou saltar novamente (Grindem et al., 2016). Essa fase costuma durar de 4 a 12 semanas, dependendo do caso.
Passo 4: Treinamento esportivo específico (fase avançada)
Após recuperar a força e o controle do movimento, o atleta entra na fase de recondicionamento esportivo. Aqui, os exercícios passam a simular os gestos e exigências do esporte praticado.
Exemplos incluem:
• Corridas em linha reta e com mudanças de direção;
• Saltos, acelerações e desacelerações;
• Exercícios com bola, para jogadores de futebol, handebol, etc.;
• Treinos com carga metabólica e cardiovascular crescente.
Esta fase é fundamental para reduzir o risco de nova lesão. Um estudo com atletas que sofreram lesão no LCA mostrou que o retorno precoce, sem critérios objetivos, aumenta em até 4 vezes o risco de nova ruptura (Kyritsis et al., 2016).
Por isso, o retorno ao esporte deve ser baseado em testes funcionais e indicadores objetivos, como:
• Força muscular igual ou superior a 90% da perna não lesionada;
• Capacidade de salto igualada;
• Bons resultados em testes de agilidade e equilíbrio.
Passo 5: Retorno gradual ao esporte
O retorno ao esporte deve ser feito de forma gradual e monitorada, com acompanhamento da equipe médica, fisioterapeuta e preparador físico.
Uma sugestão de progressão:
1. Retorno aos treinos físicos gerais (corrida, agilidade);
2. Treinos específicos do esporte, sem contato físico;
3. Treinos com contato progressivo, simulando a competição;
4. Liberação para jogo ou competição oficial.
Muitos atletas sentem receio de se lesionar novamente. O acompanhamento psicológico pode ser importante nessa fase, ajudando a restaurar a confiança.
Quanto tempo leva para voltar ao esporte?
O tempo de retorno depende da gravidade da lesão, do tipo de tratamento e da resposta individual do atleta. Veja alguns exemplos aproximados:
• Entorse leve com lesão ligamentar parcial: 2 a 6 semanas;
• Lesão de menisco tratada sem cirurgia: 4 a 8 semanas;
• Cirurgia de menisco (meniscectomia parcial): 6 a 10 semanas;
• Reconstrução do LCA: 6 a 9 meses;
• Lesão cartilaginosa com microfraturas ou transplante: 6 a 12 meses.
Esses prazos podem variar muito. O mais importante é respeitar as etapas e não apressar o retorno.
Dicas para acelerar a recuperação (com segurança):
1. Siga um plano personalizado: cada corpo reage de forma diferente.
2. Trabalhe com profissionais especializados em medicina esportiva.
3. Mantenha o corpo ativo: mesmo com o joelho machucado, é possível treinar outras partes do corpo.
4. Foque na alimentação e sono: eles são aliados da regeneração.
5. Evite comparações com outros atletas: concentre-se no seu progresso.
6. Faça testes funcionais antes de voltar aos jogos: não se baseie apenas no “sentir-se bem”.
Referencias
1 https://adrianoleonardi.com.br/artigos/lesao-ligamento-cruzado-anterior/
2 Grindem H, Snyder-Mackler L, Moksnes H, Engebretsen L, Risberg MA. Simple decision rules can reduce reinjury risk by 84% after ACL reconstruction: the Delaware-Oslo ACL cohort study. Br J Sports Med. 2016;50(13):804-808. https://doi.org/10.1136/bjsports-2016-096031
3 Kyritsis P, Bahr R, Landreau P, Miladi R, Witvrouw E. Likelihood of ACL graft rupture: not meeting six clinical discharge criteria before return to sport is associated with a four times greater risk of rupture. Br J Sports Med. 2016;50(15):946-951. https://doi.org/10.1136/bjsports-2015-095908
4 van Melick N, van Cingel REH, Brooijmans F, Neeter C, van Tienen T, Hullegie W, Nijhuis-van der Sanden MWG. Evidence-based clinical practice update: practice guidelines for anterior cruciate ligament rehabilitation based on a systematic review and multidisciplinary consensus. Br J Sports Med. 2016;50(24):1506–1515. https://doi.org/10.1136/bjsports-2015-095898
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