Essa articulação complexa suporta grande parte do peso corporal e é envolvida em praticamente todos os movimentos do dia a dia e do esporte — como correr, agachar, saltar e mudar de direção. Por isso, nem toda dor no joelho indica um problema grave, mas é fundamental saber diferenciar os sinais normais de esforço dos que sugerem lesão ou sobrecarga.
Neste artigo, vamos explicar quando a dor no joelho pode ser considerada uma resposta fisiológica do corpo ao exercício, e quando deve ser tratada como um sinal de alerta. Também abordaremos os principais tipos de dor, causas comuns, e o que dizem os estudos científicos sobre o tema.
Dor muscular pós-treino: quando é normal?
É comum sentir um leve desconforto nos joelhos após exercícios intensos, principalmente quando o treino envolve movimentos com carga, como agachamentos, corridas em ladeiras ou saltos. Essa dor geralmente está associada à fadiga muscular ou ao fenômeno chamado dor muscular de início tardio (DOMS — Delayed Onset Muscle Soreness), que aparece entre 24 e 72 horas após o exercício e tende a desaparecer espontaneamente.
Esse tipo de dor:
• É difusa e superficial;
• Não limita significativamente os movimentos;
• Melhora com repouso leve e retorno gradual à atividade.
Estudos mostram que o DOMS é mais comum em exercícios excêntricos (em que o músculo alonga sob tensão), o que é frequente nos treinos de força e corrida. De acordo com Cheung et al. (2003), essa dor é parte do processo adaptativo muscular e não está diretamente relacionada a lesões articulares.
Quando a dor no joelho deve acender um sinal de alerta?
Nem toda dor deve ser ignorada. Há sinais claros que indicam que o corpo pode estar lesionado ou sobrecarregado. Abaixo, listamos os principais indícios de que a dor no joelho exige atenção médica:
1. Dor localizada e persistente
Quando a dor se mantém por mais de 7 a 10 dias, mesmo com repouso ou redução do treino, é provável que haja uma lesão estrutural — como tendinite, lesão meniscal ou desgaste da cartilagem.
2. Inchaço ou calor no joelho
A presença de edema (joelho “inchado”) ou aumento da temperatura local pode indicar um processo inflamatório ou traumático, como uma entorse ligamentar ou sinovite.
3. Estalos com dor
Estalos no joelho são comuns e, muitas vezes, inofensivos. No entanto, estalos acompanhados de dor ou bloqueio da articulação devem ser investigados. Podem estar associados a lesões meniscais ou corpos livres dentro da articulação.
4. Instabilidade ou sensação de falseio
Quando o joelho “falha”, dá a sensação de que vai sair do lugar ou ceder, pode ser sinal de lesão de ligamentos, como o cruzado anterior ou os colaterais.
5. Dor que piora com movimentos específicos
Se a dor aparece sempre ao descer escadas, agachar ou ficar muito tempo sentado, pode indicar problemas como síndrome da dor femoropatelar ou condropatia patelar, condições que exigem intervenção.
De acordo com Dye (2005), a dor no joelho precisa ser interpretada à luz da “capacidade de homeostase” da articulação — ou seja, o equilíbrio entre carga e adaptação. Quando o limite da articulação é ultrapassado, surgem os sinais de alarme.
Principais causas de dor no joelho relacionadas ao exercício
Síndrome da dor femoropatelar
Comum em corredores, ciclistas e praticantes de agachamentos, essa condição causa dor na parte da frente do joelho, geralmente agravada por subir ou descer escadas, correr ou permanecer muito tempo sentado. Está relacionada a desequilíbrios musculares e a sobrecarga na articulação patelofemoral.
Tendinopatia patelar (“joelho do saltador”)
É a inflamação ou degeneração do tendão patelar, comum em atletas de esportes com salto, como vôlei, basquete e CrossFit. A dor se localiza abaixo da patela e piora com esforço.
Síndrome da banda iliotibial
Afeta principalmente corredores e ciclistas, causando dor na parte lateral do joelho. Está relacionada ao atrito da banda iliotibial sobre o côndilo femoral lateral durante movimentos repetitivos.
Lesões meniscais e ligamentares
Mais frequentes em esportes com mudanças bruscas de direção, como futebol, basquete e tênis. Provocam dor localizada, inchaço, estalos e, às vezes, bloqueio da articulação.
Segundo estudo de Deyle et al. (2000), lesões como tendinopatias e síndromes de sobrecarga podem ser tratadas com fisioterapia e correção biomecânica, enquanto lesões mais graves exigem avaliação ortopédica e, por vezes, cirurgia.
Quando procurar ajuda médica?
Você deve procurar um ortopedista ou fisioterapeuta especializado em esporte se apresentar:
• Dor no joelho que não melhora com repouso ou anti-inflamatórios leves;
• Inchaço persistente ou recorrente após os treinos;
• Sensação de instabilidade;
• Incapacidade de realizar movimentos básicos (agachar, correr, subir escadas);
• Histórico prévio de lesões no joelho com sintomas semelhantes.
O diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações, agravamento do quadro e afastamento prolongado dos treinos.
Como prevenir a dor no joelho durante os treinos?
• Fortaleça a musculatura da coxa, quadril e core: o bom funcionamento do joelho depende da estabilidade das articulações vizinhas.
• Alongue-se de forma moderada e ativa: a flexibilidade adequada ajuda a distribuir melhor as cargas.
• Respeite os limites do corpo: aumente o volume e a intensidade do treino de forma gradual.
• Corrija a técnica dos movimentos: principalmente em exercícios como agachamentos, passadas e saltos.
• Use calçados adequados para o tipo de treino e terreno.
• Descanse entre os treinos: o joelho precisa de tempo para se recuperar.
Conclusão
Sentir algum desconforto no joelho após treinos intensos pode ser normal, especialmente em fases de adaptação ou aumento de carga. No entanto, dores persistentes, localizadas, associadas a inchaço, estalos com dor ou sensação de instabilidade devem ser levadas a sério. Saber interpretar os sinais do corpo é essencial para garantir a longevidade na prática esportiva e prevenir lesões graves.
O acompanhamento com profissionais de educação física, fisioterapia e ortopedia é o melhor caminho para manter o treino seguro e eficiente.
Referências bibliográficas
1. https://adrianoleonardi.com.br/categoria/dor-no-joelho-1/
2.Cheung, K., Hume, P., & Maxwell, L. (2003). Delayed Onset Muscle Soreness: Treatment strategies and performance factors. Sports Medicine, 33(2), 145–164. https://doi.org/10.2165/00007256-200333020-00005
3. Dye, S. F. (2005). The pathophysiology of patellofemoral pain: a tissue homeostasis perspective. Clinical Orthopaedics and Related Research, 436, 100–110. https://doi.org/10.1097/01.blo.0000172302.78455.7d
4.. Deyle, G. D., Allison, S. C., Matekel, R. L., Ryder, M. G., Stang, J. M., Gohdes, D. D., & Hutton, R. (2000). Physical therapy treatment effectiveness for osteoarthritis of the knee: a randomized comparison of supervised clinical exercise and manual therapy procedures versus a home exercise program. Physical Therapy, 80(10), 946–960. https://doi.org/10.1093/ptj/80.10.946
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